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A fala do príncipe
CLÓVIS ROSSI
São Paulo - Suponho que, do Oiapoque ao Chuí, a nação esteja soltando
um enorme suspiro de alívio ao ficar
sabendo, pela voz do presidente da
República, que, "se houver algum
membro do governo envolvido nesse
episódio, será demitido".
O episódio a que o presidente se refere é o escândalo da compra de votos
para a reeleição.
É claro que se trata da explicitação
do óbvio. Sensacional mesmo seria o
presidente da República afirmar o
contrário -ou seja, que, mesmo que
haja alguém do governo envolvido
"nesse episódio", não será demitido.
Mas as coisas tomaram tal dimensão
nos últimos 30 ou 40 dias que o presidente parece sentir-se compelido a dizer o óbvio e, apesar de ser óbvio, pontuá-lo com a ênfase de quem anuncia
a última nova em física quântica.
Pena que lhe falte coerência. Só haveria uma maneira de verificar, de fato, se há ou não alguém do governo
"envolvido nesse episódio": constituir
uma CPI para investigar os fatos revelados pela Folha.
Mas, no mesmo discurso, o presidente louva o fato de o Congresso não ter
paralisado a ação legislativa, "ao
mesmo tempo em que cumpre o dever
de apurar as denúncias".
Cumpre? Não é o que pensa o distinto público, conforme apurado em recentíssima pesquisa do Datafolha, que
mostra escandalosa porcentagem a favor de uma CPI sobre a compra de votos, e não apenas uma burocrática comissão de sindicância.
Mas, entre o que pensa o público e a
certeza do príncipe de que tudo não
passa de "sanha dos adversários", vale
a certeza do príncipe.
O presidente agradece, acima de tudo, o fato de o Senado ter aprovado,
em primeiro turno, a emenda da reeleição. Claro que não está pensando
nele, mas "na importância da continuidade da estabilidade política e
econômica do Brasil".
Só faltou acrescentar, parafraseando
madame Pompadour sobre Luís 15,
"sans moi, le déluge".
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