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São Paulo, sexta-feira, 23 de maio de 2003

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MARCELO BERABA

O papel da política

RIO DE JANEIRO - A questão que nos persegue: por que outras grandes cidades do mundo que consomem mais drogas que o Rio não vivem a mesma situação de guerra civil?
Há, claro, vários fatores além do despreparo, da ineficiência e da corrupção da polícia. Um, bem típico do Rio, é o amesquinhamento da política. A pequena política, aquela marqueteira e eleitoreira, contaminou as ações de segurança e não é de agora. Já tivemos um governador que prometeu acabar com a violência em seis meses. Já se vão 16 anos e cinco governadores e a violência e a criminalidade só fizeram aumentar.
Nenhum governador tratou o problema com a seriedade devida. As medidas de segurança mudaram ao sabor das pressões e dos interesses menores, o que sempre impediu a implementação de uma politica de segurança contínua e eficaz.
A ida do ex-governador Anthony Garotinho para a Secretaria de Segurança aprofunda a relação promíscua entre política e segurança no Estado. Os danos dessa contaminação ficam flagrantes em episódios como o desta semana, quando um comandante da PM divulgou um ofício em que acusava, em fevereiro, o secretário de Esportes de ser conivente com o narcotráfico. A primeira reação do ex-governador não foi questionar por que o caso ainda não tinha sido investigado, mas acusar interesses políticos por trás da denúncia.
Garotinho se perdeu nas investigações do caso da universidade Estácio de Sá. Tomou providências tardias no caso de quatro rapazes assassinados no Borel por policiais. E foi surpreendido por acusações graves contra um secretário de Estado. É um mistério que ainda encontre tempo para negociar uma saída para a crise que seu grupo político vive no PSB, onde está sendo isolado.
Não sei se o oficial da PM diz a verdade quando acusa o secretário de Esportes. Mas tem razão quando afirma que, no Rio, "o bem foi derrotado pelo mal através da política".


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