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CLÓVIS ROSSI
Não é a primeira. Nem a última
PARIS - Juan Arias, correspondente do jornal espanhol "El País"
no Brasil, termina sua nota sobre o
mais recente escândalo no país com
uma observação que parece casual,
de passagem, mas acaba sendo a explicação de fundo para todos os escândalos, recentes e não tão recentes.
"Não é a primeira vez que altos
funcionários do governo de Lula
são acusados de corruptos", escreveu Arias.
Tivesse acrescentado que também foram acusados mais de uma
vez de corrupção altos funcionários
dos governos Fernando Henrique
Cardoso, José Sarney, Fernando
Collor, para citar só o período democrático, estaria tudo explicado:
todos esses presidentes foram lenientes no trato de seus amigos/
correligionários quando envolvidos
em escândalos. Por extensão, forneceram uma senha indireta (às vezes direta) para que os escândalos
se reproduzissem uma e outra vez.
O caso de Lula é talvez mais grave, porque seu partido/grupo foi o
último a chegar ao poder, do qual
todos os demais grandes partidos já
haviam desfrutado (e o verbo aí não
é casual). Até ocupá-lo, os lulo-petistas eram os primeiros a gritar
"falta", sempre que havia alguma
acusação contra funcionários dos
governos a que faziam oposição -e
gritavam bem alto.
Agora, calam, se omitem, abafam
-exatamente como faziam seus antecessores. Resultado: não sobrou
ninguém que não tenha telhado de
vidro. Por isso, o grito, quando sai,
sai abafado.
O público vai ficando anestesiado. Convencido de que todos roubam na sua vez de ser governo, olha
para os escândalos com uma indignação temperada pela anestesia. Se
ninguém foi punido nos mil escândalos anteriores, por que haverá
agora algum castigo?
Como escreveu Arias, "não é a
primeira vez...". Por isso mesmo,
tampouco será a última.
crossi@uol.com.br
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