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O drama da Varig
Insistência num modelo que maximiza a folha de pagamentos dificultou uma saída promissora para a empresa aérea
É
NOTÁVEL o esforço dos
funcionários da Varig para tentar salvar a empresa. Infelizmente, a atitude heróica, de pessoas que não
lutam apenas pela manutenção
de seus empregos mas pela sobrevivência de uma marca que
há décadas tem sido símbolo da
aviação civil brasileira, não vem
conseguindo frear o ritmo também notável em que se deterioram as perspectivas do negócio.
Ainda que deposite hoje os
US$ 75 milhões que endossariam a compra da parte supostamente saudável da empresa, o
consórcio TGV (Trabalhadores
do Grupo Varig) -ou qualquer
outro comprador (surge agora
uma proposta informal da VarigLog)- será o gestor de uma
companhia que parece menor a
cada dia. Ficaria em suspenso a
capacidade de geração de receita
da nova Varig, diante do número
reduzido de aeronaves e de rotas
nas quais será capaz de operar.
Também impressiona a ausência de menção a que tipo de reestruturação o TGV pretende fazer
no quadro funcional para adaptar a empresa a seu novo tamanho -e para torná-la rentável.
Estimativas do mercado dão
conta de que, no caso de a companhia deixar de operar, a aviação civil brasileira teria capacidade de absorver pouco mais da
metade dos 11 mil trabalhadores
da Varig. A absorção significaria,
também, uma sensível redução
na média salarial dos oriundos
da companhia rio-grandense.
A insistência em um modelo de
negócios que maximiza a folha
de pagamentos e a resistência da
fundação que geria a Varig em
abrir mão de poder foram dois
dos principais entraves a uma
reestruturação promissora no
passado, quando havia perspectivas de, isolando a "parte podre", configurar-se uma empresa
grande e competitiva. Exposta a
uma concorrência com estrutura
bem mais enxuta de custos, todas as saídas para a Varig passavam por demissões e redução
dos gastos com funcionários.
Planos apresentados por diversos ministros e governos foram rejeitados pela empresa.
Talvez seus dirigentes nutrissem
esperança quase mística de que,
ao fim e ao cabo, nenhum governo, quanto menos um gerido pelo PT, deixaria uma companhia
com a história da Varig quebrar.
Teria feito sentido, há três, cinco ou dez anos, o governo, através do BNDES ou de outro mecanismo, injetar dinheiro em uma
companhia aérea reestruturada,
que tivesse horizontes para crescer. O erário é o maior credor da
empresa e teria interesse em recobrar ao menos parte das perdas em que incorrerá caso a companhia deixe de operar. Salvar a
Varig, nesse contexto, seria uma
moeda política que interessaria a
qualquer homem público.
A falta de visão, principalmente da parte dos gestores da companhia aérea, levou ao impasse
atual. Propiciou o ajuste particularmente selvagem a que se assiste agora, porque muito mais
doloroso para a empresa, seus
funcionários, seus clientes e seus
credores -e para a marca Varig- do que se o bom senso de
perder um pouco no presente
para ganhar perspectiva de vôo
no futuro tivesse prevalecido em
algum lugar do passado.
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