São Paulo, quinta-feira, 23 de junho de 2011

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Cristina tenta a reeleição

A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, larga na disputa eleitoral com uma enorme vantagem sobre seus adversários.
A impopularidade decorrente dos constantes atritos de sua gestão -com a imprensa, com os agricultores, com os empresários, com antigos aliados- diminuiu do final do ano passado para cá. E o principal impulso da recém-adquirida aprovação de Cristina vem, paradoxalmente, da maior perda de seu governo.
A morte súbita de Néstor Kirchner, em outubro, privou a presidente do marido, do companheiro de uma longa jornada política e do principal estrategista por trás de seu governo. Por outro lado, a ausência do popular ex-presidente rendeu-lhe uma simpatia recorde, com uma escalada de 25 pontos nas pesquisas de opinião.
Levantamento recente dava à atual presidente 47% das intenções de voto na eleição de outubro próximo, contra 15% do deputado oposicionista Ricardo Alfonsín, filho do ex-presidente Raul Alfonsín, e 7% do ex-presidente Eduardo Duhalde.
Cristina soube aproveitar a compaixão despertada por sua perda. Passou a vestir-se de preto. Escolheu para o anúncio de que decidira se candidatar o mesmo local onde o marido fora velado, menos de oito meses atrás.
Só isso não explica, decerto, seu favoritismo. A economia do país cresceu à média anual de 9% desde a hecatombe financeira de 2001, quando a Argentina chegou a ter três presidentes em duas semanas. O PIB do país registrou expansão de 8,4% em 2010, e a previsão é de ao menos 5% para 2011.
A ampliação de programas sociais, como o pagamento de benefícios a desempregados em troca de manter os filhos na escola, também contribui para as chances da presidente na eleição de outubro.
A conjuntura favorável tem mascarado, até agora, deficiências importantes na Argentina. A inflação oficial, maquiada pelo governo, está entre 7% e 8%, mas as estimativas são que a alta real de preços esteja em cerca de 25%.
Os embates com diversos setores, em especial com a imprensa, não dão sinal de arrefecer. A extensão do dano causado pelo recente escândalo de corrupção na organização social das Mães da Praça de Maio, uma entidade de direitos humanos com fortes laços no governo, ainda é incerta.
O próximo passo da candidatura da presidente será a escolha do vice em sua chapa, que precisa ocorrer até sábado. O atual, Julio Cobos, tornou-se inimigo do governo. Será um importante indicador dos rumos que Cristina pretende imprimir ao kirchnerismo.


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