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Cristina tenta a reeleição
A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, larga na disputa
eleitoral com uma enorme vantagem sobre seus adversários.
A impopularidade decorrente
dos constantes atritos de sua gestão -com a imprensa, com os
agricultores, com os empresários,
com antigos aliados- diminuiu
do final do ano passado para cá. E
o principal impulso da recém-adquirida aprovação de Cristina
vem, paradoxalmente, da maior
perda de seu governo.
A morte súbita de Néstor Kirchner, em outubro, privou a presidente do marido, do companheiro
de uma longa jornada política e do
principal estrategista por trás de
seu governo. Por outro lado, a ausência do popular ex-presidente
rendeu-lhe uma simpatia recorde,
com uma escalada de 25 pontos
nas pesquisas de opinião.
Levantamento recente dava à
atual presidente 47% das intenções de voto na eleição de outubro
próximo, contra 15% do deputado
oposicionista Ricardo Alfonsín, filho do ex-presidente Raul Alfonsín, e 7% do ex-presidente Eduardo Duhalde.
Cristina soube aproveitar a
compaixão despertada por sua
perda. Passou a vestir-se de preto.
Escolheu para o anúncio de que
decidira se candidatar o mesmo
local onde o marido fora velado,
menos de oito meses atrás.
Só isso não explica, decerto, seu
favoritismo. A economia do país
cresceu à média anual de 9% desde a hecatombe financeira de
2001, quando a Argentina chegou
a ter três presidentes em duas semanas. O PIB do país registrou expansão de 8,4% em 2010, e a previsão é de ao menos 5% para 2011.
A ampliação de programas sociais, como o pagamento de benefícios a desempregados em troca
de manter os filhos na escola, também contribui para as chances da
presidente na eleição de outubro.
A conjuntura favorável tem
mascarado, até agora, deficiências importantes na Argentina. A
inflação oficial, maquiada pelo
governo, está entre 7% e 8%, mas
as estimativas são que a alta real
de preços esteja em cerca de 25%.
Os embates com diversos setores, em especial com a imprensa,
não dão sinal de arrefecer. A extensão do dano causado pelo recente escândalo de corrupção na
organização social das Mães da
Praça de Maio, uma entidade de
direitos humanos com fortes laços
no governo, ainda é incerta.
O próximo passo da candidatura da presidente será a escolha do
vice em sua chapa, que precisa
ocorrer até sábado. O atual, Julio
Cobos, tornou-se inimigo do governo. Será um importante indicador dos rumos que Cristina pretende imprimir ao kirchnerismo.
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