São Paulo, domingo, 23 de julho de 2006

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SERGIO COSTA

Debaixo do tapete

RIO DE JANEIRO - A história da recuperação de dez fuzis enferrujados, apresentados sobre um pano no chão da sede do Comando Militar do Leste, insiste em sair debaixo do tapete para onde foi varrida pelo Exército depois da noite daquele 14 de março.
Os militares optaram por não investigar as circunstâncias em que as armas roubadas de um quartel "reapareceram" nas proximidades da favela da Rocinha. Bateram numa tecla só: "As Forças Armadas não negociam com criminosos". Mesmo diante de todas as evidências relatadas pela Folha à época, de que houve um acordo, preferiram abafar o caso.
Em junho, um coquetel num batalhão provocou dores de cabeça no general Rui Monarca da Silveira. Justamente o comandante da operação militar que cercou mais de dez favelas do Rio em março. Um dos assuntos nas rodinhas da festa era o da participação de militares numa negociação com o traficante Robson Caveirinha, na prisão em Bangu, para a devolução dos fuzis. Alguém andou falando demais.
General não gostou do burburinho e mandou investigar os envolvidos. Escutas telefônicas gravaram conversas da apuração ordenada pelo militar e entre colegas que sabiam de tudo. Nas da investigação, muita dissimulação. Nos telefonemas entre amigos, tudo cifrado, cheio de códigos. Podem servir como ponto de partida para uma investigação mais profunda.
No fim das contas, esse enredo é simples: quem faz o trabalho sujo e é descoberto acaba sozinho. Isso vale para a CIA, para policiais, militares, governos e políticos. Neste caso não é diferente. Trata-se de uma história com começo (o roubo das armas), meio (a negociação) e fim (a recuperação). Tal e qual no cinema. Só está faltando o epílogo, aquele que mostra o destino dos principais personagens da trama.


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