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ALBA ZALUAR
Trancos e barrancos
SOCIÓLOGOS e economistas
têm se debruçado sobre a confiança para entender como e
porque sistemas econômicos melhoram seu funcionamento. Até
mesmo a moeda não seria um instrumento de comunicação que
transcende o tempo e o espaço não
fora pela crença que os que a usam
nela têm. No Brasil, só em meados
dos anos 90 recuperou-se a confiança na moeda, quando os consumidores livraram-se dos trancos
inflacionários.
Anthony Giddens, sociólogo inglês admirado pelos primeiros ministros de seu país, definiu a sociedade contemporânea como a ordenada por sistemas peritos: os sistemas de excelência técnica, de competência material que oferecem os
profissionais especializados a
quem os "leigos" recorrem cada
vez mais. É essa autoridade da
competência que conduz a aceitação de cada pessoa a utilizar seus
serviços.
Um dos exemplos mais comumente lembrados dessa crença nos
peritos é dada pela fé que passageiros depositam na cadeia dos que
garantem o vôo seguro e bem terminado das aeronaves, mesmo sem
conhecê-los ou mesmo vê-los. Sem
essa confiança, não há como entrar
na máquina voadora.
Claro que, diante de tantos desafios da alta tecnologia, é impensável que parentes, amigos, correligionários, asseclas e sócios venham
a ocupar postos-chave em tais sistemas, aqueles em que as decisões
estratégicas são tomadas. Superar
as amarras do clientelismo hierárquico no Brasil não significa apenas impedir a paralisia do passado
anti-republicano, mas a construção da crença nas instituições e organizações sem as quais não há
previsibilidade nem segurança,
nem desenvolvimento econômico.
Empresas buscam o lucro. Mas,
se essa busca faz descuidar do objetivo prioritário de manter a segurança dos clientes, junto com o
avião que cai, a confiança desaba.
E, com ela, os lucros e o desempenho empresarial descem o barranco, carregando a imagem do país no
mundo dos negócios. Portanto, a
caça ao lucro deve ter limites impostos pelo Estado que prevê os
desastres provocados pela avidez.
Ainda mais quando a logística centralizada dos vôos de passageiros
voltada para ter sempre cheios todos os aviões das empresas aéreas e
usadas ao máximo todas as aeronaves disponíveis, destroem vidas,
sonhos, encontros, compromissos,
negócios.
Neste caso, não se pode dizer
"função do Estado, dever de todos"
como se afirma para a segurança
pública. Os passageiros se entregam às companhias aéreas quando
cruzam a porta da aeronave. Fica
apenas o dever do Estado de limitar os excessos da caça ao lucro que
pode terminar no apocalipse de
uma explosão.
ALBA ZALUAR escreve às segundas-feiras nesta
coluna.
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