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Efeito saudável
O ciclo de redução da taxa básica de juros deixa mais evidente o inaceitável patamar dos "spreads" bancários no Brasil
O BANCO Central decidiu
ontem reduzir para
8,75% a taxa Selic, na
tentativa de criar um
estímulo adicional à recuperação
da economia. O corte de meio
ponto percentual corresponde à
quinta redução consecutiva promovida pelo Comitê de Política
Monetária (Copom) desde que
os juros básicos entraram em
trajetória de queda, em janeiro
deste ano.
Mesmo considerando-se que a
medida vai na direção correta, o
Brasil figura num desconfortável
quinto lugar no ranking dos juros praticados pelo mundo. A taxa real (os juros Selic menos a
inflação estimada para o ano),
agora de 4,4%, é baixa para o histórico brasileiro, mas ainda pode
ser reduzida no atual cenário de
grave crise econômica.
O principal problema da política monetária nos últimos meses
tem sido garantir que as quedas
da taxa Selic se traduzam em reduções para os tomadores finais
de empréstimos, de forma a criar
um ambiente efetivamente favorável à retomada da atividade
econômica.
No Brasil, o "spread" bancário
-ou seja, a diferença entre o que
as instituições financeiras pagam aos depositantes pela captação de seus depósitos e as taxas
que cobram em empréstimos-
tem sido, há anos, o mais alto do
mundo. Encontra-se hoje em
torno de 30 pontos percentuais.
Os bancos costumam alegar
que a diferença se deve a elementos "tipicamente brasileiros", tais como os elevados custos fiscais das operações e dificuldades jurídicas relacionadas à
recuperação, em caso de inadimplência, dos créditos concedidos.
Nada disso, entretanto, justifica que o nível dos "spreads" bancários entre nós seja 11 vezes superior ao praticado em países
desenvolvidos e cinco vezes mais
alto do que o de nações em desenvolvimento -como mostrou
documento divulgado no início
deste ano pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) a respeito das taxas relativas a 2008.
Desde que conduzida de forma
responsável, é possível que gere
algum resultado a política recente do governo de compelir instituições financeiras públicas, como o Banco do Brasil e a Caixa
Econômica Federal, a oferecer
juros mais baixos do que o mercado em seus empréstimos.
No curto prazo, essa estratégia
tem efeito anticíclico, contrabalançando a natural retração do
restante do sistema bancário na
concessão de financiamentos
num quadro de crise. No médio
prazo, ela pode estimular, pela
via da concorrência e do temor
da perda de mercado, o conjunto
do sistema bancário a praticar
juros mais civilizados.
Nesse cenário, a continuidade
da política de redução dos juros
básicos da economia pelo Copom torna-se ainda mais oportuna. Ao proporcionar queda dos
custos de captação das instituições financeiras em geral, taxas
básicas mais baixas dão sustentação ao movimento dos bancos
públicos e criam um ambiente
que contribui para reduzir o risco de inadimplência em suas
operações de empréstimo.
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