São Paulo, sexta-feira, 23 de julho de 2010

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Decisão previsível

Embora parte do mercado preferisse elevação maior da taxa de juros, havia bons motivos para que o BC moderasse o ritmo de alta

Uma boa parcela do mundo das finanças sentiu-se contrariada e insatisfeita com a decisão do Banco Central de elevar em meio ponto percentual a taxa básica de juros, que foi a 10,75% ao ano. Muitos apostavam numa alta de 0,75 ponto. Embora demonstre forte apreço pela autonomia do BC em relação ao governo federal, o mercado não gosta de decisões que se revelem autônomas em relação a suas próprias ideias e intenções.
Quando o BC não corresponde às expectativas de analistas e representantes de bancos e instituições financeiras, é logo acusado, como ocorre agora, de ser pouco transparente ou de incorrer em falhas de comunicação.
Não eram poucos, no entanto, os que esperavam pela decisão anunciada. Aqui mesmo neste espaço, no dia 14, considerou-se que existiam bons motivos para o Comitê de Política Monetária moderar o ritmo de alta da Selic.
De fato, acentuaram-se nas últimas semanas as evidências de desaceleração da economia e de arrefecimento da inflação. Os sinais poderiam ser explicados por diversos fatores, como o fim do ciclo de afrouxamento monetário e de medidas adotadas pelo governo para incentivar o consumo -caso das reduções de impostos, que estimularam a antecipação de compras de bens duráveis.
Dados relativos à atividade industrial indicavam que o ímpeto do setor diminuía e o mesmo se observava no varejo. Também se acomodavam as pressões sobre o custo de vida verificadas nos primeiros meses do ano. A esses fatores internos podem-se acrescentar alguns movimentos da economia internacional, como a crise europeia, a diminuição do crescimento chinês e a queda nas cotações de commodities.
Por mais que se possa questionar o modo como o BC tem fornecido pistas ao mercado, é difícil encarar a decisão de anteontem como surpreendente. Pode-se especular sobre até que ponto o Copom guiou-se por fatores conjunturais -supostamente passageiros- e discordar da medida, que, aliás, foi unânime. Mas convém aguardar a divulgação da ata da reunião para melhor juízo.
Pouco fala-se entretanto, no mercado, sobre as elevadas taxas que são cobradas do consumidor. Empréstimos a pessoas físicas e juros dos cartões de crédito atingem valores elevadíssimos, que não se justificam apenas pelos riscos de inadimplência, como tentam explicar alguns. Trata-se de um setor que ainda funciona de maneira um tanto oligopolizada e que continua a se beneficiar da inércia e dos maus hábitos do consumidor, acostumado a olhar apenas para o tamanho da prestação.
Medidas como o cadastro positivo, sempre lembradas quando o tema é levantado, ainda não saíram do papel. No país campeão de juros, muitas anomalias, como se vê, continuam em cena.


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