|
Próximo Texto | Índice
Editoriais
editoriais@uol.com.br
Decisão previsível
Embora parte do mercado preferisse elevação maior
da taxa de juros, havia bons motivos para que o BC moderasse o ritmo de alta
Uma boa parcela do mundo das
finanças sentiu-se contrariada e
insatisfeita com a decisão do Banco Central de elevar em meio ponto percentual a taxa básica de juros, que foi a 10,75% ao ano. Muitos apostavam numa alta de 0,75
ponto. Embora demonstre forte
apreço pela autonomia do BC em
relação ao governo federal, o mercado não gosta de decisões que se
revelem autônomas em relação a
suas próprias ideias e intenções.
Quando o BC não corresponde
às expectativas de analistas e representantes de bancos e instituições financeiras, é logo acusado,
como ocorre agora, de ser pouco
transparente ou de incorrer em falhas de comunicação.
Não eram poucos, no entanto,
os que esperavam pela decisão
anunciada. Aqui mesmo neste espaço, no dia 14, considerou-se que
existiam bons motivos para o Comitê de Política Monetária moderar o ritmo de alta da Selic.
De fato, acentuaram-se nas últimas semanas as evidências de desaceleração da economia e de arrefecimento da inflação. Os sinais
poderiam ser explicados por diversos fatores, como o fim do ciclo
de afrouxamento monetário e de
medidas adotadas pelo governo
para incentivar o consumo -caso
das reduções de impostos, que estimularam a antecipação de compras de bens duráveis.
Dados relativos à atividade industrial indicavam que o ímpeto
do setor diminuía e o mesmo se
observava no varejo. Também se
acomodavam as pressões sobre o
custo de vida verificadas nos primeiros meses do ano. A esses fatores internos podem-se acrescentar
alguns movimentos da economia
internacional, como a crise europeia, a diminuição do crescimento
chinês e a queda nas cotações de
commodities.
Por mais que se possa questionar o modo como o BC tem fornecido pistas ao mercado, é difícil
encarar a decisão de anteontem
como surpreendente. Pode-se especular sobre até que ponto o Copom guiou-se por fatores conjunturais -supostamente passageiros- e discordar da medida, que,
aliás, foi unânime. Mas convém
aguardar a divulgação da ata da
reunião para melhor juízo.
Pouco fala-se entretanto, no
mercado, sobre as elevadas taxas
que são cobradas do consumidor.
Empréstimos a pessoas físicas e
juros dos cartões de crédito atingem valores elevadíssimos, que
não se justificam apenas pelos riscos de inadimplência, como tentam explicar alguns. Trata-se de
um setor que ainda funciona de
maneira um tanto oligopolizada e
que continua a se beneficiar da
inércia e dos maus hábitos do consumidor, acostumado a olhar apenas para o tamanho da prestação.
Medidas como o cadastro positivo, sempre lembradas quando o
tema é levantado, ainda não saíram do papel. No país campeão de
juros, muitas anomalias, como se
vê, continuam em cena.
Próximo Texto: Editoriais: Educação e democracia
Índice
|