São Paulo, terça-feira, 23 de agosto de 2005 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES A longa marcha para a China
EMERSON KAPAZ
Nesse contexto, recomenda a cautela que o primeiro cuidado do governo e do empresariado brasileiro deva ser o de se mover cuidadosamente na aproximação com a China, delimitando com precisão direitos e salvaguardas que assegurem o indispensável respeito aos ritos legais preconizados pela comunidade econômica, particularmente a OMC. Evidentemente, será um processo árduo, lento e muitas vezes tenso, mas o país não pode deixar se levar pela utopia que, cerca de dois séculos atrás, guiou os fabricantes de tecidos europeus que sonhavam em fazer fortunas com encomendas ilimitadas se conseguissem encompridar em uma polegada os casacos dos chineses. Esse tempo de pura ilusão passou. A China, no passado como agora, se distingue pela racionalidade substantiva das suas metas. O segundo aspecto a considerar é a frágil competitividade brasileira. A lista de gargalos a eliminar nunca foi tão vasta e envolve as reformas do Estado, a tributária, a trabalhista e a do Judiciário, além de maciços investimentos em infra-estrutura. Essas são as faces visíveis de mudanças que não mais podem ser adiadas. Em paralelo, é imperativo levar em conta as necessidades de abolir a burocracia excessiva e, como desdobramento, combater o mal uso do dinheiro público e elevar a eficiência gerencial do Estado. Aliás, um campo em que a história de mais de 4.000 anos dos chineses, conhecidos pela eficiência da burocracia, tem muito a ensinar. É esse o panorama que dificulta e torna longa e difícil a marcha brasileira no rumo do sempre magnético mercado chinês. A favor do Brasil existe o fato de que a China, a despeito dos seus paradoxos, se caracteriza pela determinação de evitar conflitos. Diferentemente dos tempos da revolução maoísta, cooperação e integração preponderam sobre os antagonismos. São nuances que não podem ser esquecidas, mas que não se cultive o otimismo fácil. Os chineses são como "gansos voando em formação" -sabem de onde partiram, onde estão e aonde querem chegar. O Brasil, pela primeira vez na história, se encontra particularmente ansioso para se aproximar da China. Mas não pode incorrer no mesmo erro de Marco Polo, o viajante veneziano que, no século 13, descreveu aquele país como o "mais rico do mundo", impressionado que ficou pela invenção da pólvora, da bússola marinha e da imprensa, mas se esqueceu de que a China pensa muito mais no seu próprio futuro do que na fortuna dos seus parceiros. Por isso, fica a lição da história: é preciso conhecer a personalidade profunda da China para ali conquistar espaços verdadeiros. Sempre foi assim e não será diferente agora, por mais atraente que as oportunidades possam parecer. Emerson Kapaz, 50, é presidente do ETCO -Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial. Foi secretário da Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo (governo Covas). www.etco.org.br Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Marisa Bittar e Amarilio Ferreira Jr.: A esquerda e a crise do PT Índice |
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