|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
Meirelles é mais que Bernanke
SÃO PAULO - Henrique Meirelles
goza de mais independência do que
Ben Bernanke, o presidente do banco central dos EUA, embora o Fed
esteja protegido por lei, ao contrário do BC brasileiro.
É uma dedução lógica a partir das
cenas explícitas de pressão sobre
Bernanke exibidas no encontro que
ele manteve com um representante
do Executivo (o secretário do Tesouro, Henry Paulson) e um do Legislativo (o senador democrata
Christopher Dodd).
Dodd, ao relatar o encontro, disse
que Bernanke está preparado para
usar todos os meios disponíveis para amenizar a crise. Obviedade?
Apenas aparentemente. Qualquer
autoridade é obrigada a estar sempre preparada para usar todos os
meios para amenizar crises. O que
Dodd na verdade quis dizer -e os
mercados entenderam- é que o
Fed pode até reduzir os juros para
conter a crise, tal como pedem os
mercados, mas está longe de ser
consenso entre analistas.
O editorial de ontem do "Financial Times", por exemplo, diz que
uma medida como essa, por indiscriminada, cria "moral hazard" nos
mercados (beneficia também quem
arriscou demais e deveria ser punido por isso), além de "ter uma boa
chance de não funcionar".
Voltando a Meirelles: o presidente Lula pode até ter pedido, reservadamente, queda dos juros ou do
real, ou ambas as coisas, mas jamais
submeteu o presidente do BC a cenas públicas de pressão.
O presidente sentiu, antes mesmo da posse, que o único fator desestabilizador para seu governo poderiam ser os mercados e suas
apostas. "Comprou-os" com a independência de fato dada a Meirelles.
Aliás, a primeira parcela da compra foi a "Carta ao Povo Brasileiro",
que o futuro ministro Antonio Palocci conta em livro ter negociado
com João Roberto Marinho, das
Organizações Globo, por ter este
"um radar bastante atento às mudanças de humor do mercado".
crossi@uol.com.br
Texto Anterior: Editoriais: Descrédito acumulado
Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Mensaleiros e margaridas Índice
|