São Paulo, quinta-feira, 23 de agosto de 2007

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KENNETH MAXWELL

Fim de jogo

O CHEFE do Exército britânico, general sir Richard Dannett, estava no Afeganistão durante o final de semana, em visita às tropas do país estacionadas na Província de Helmand e envolvidas em árduas operações de combate contra o Taleban. O general foi muito franco em suas avaliações públicas. Declarou que o Exército britânico está "superestendido" e afirmou que não existia "mais nenhum grupo de combate" que pudesse ser acionado como reforço.
No Iraque, as forças britânicas virtualmente abandonaram as quatro Províncias do sul do país sobre as quais assumiram o controle depois da invasão liderada pelos EUA, em 2003. Agora estão concentradas no palácio de verão de Saddam Hussein em Basra e no aeroporto daquela cidade. No palácio de Saddam, 500 soldados estão cercados por milícias xiitas e sofrem constantes ataques. No aeroporto, 5.000 soldados, a maior parte dos quais alojados em barracas, sofreram cerca de 450 ataques com foguetes nos últimos três meses.
Os generais britânicos desejam retirar as tropas de Basra o mais rapidamente possível. Mas a cidade é essencial para a exportação do petróleo iraquiano, é um baluarte dos xiitas e é altamente vulnerável a ações iranianas. Será necessário deslocar tropas norte-americanas para o sul do Iraque a fim de cobrir a retirada das unidades britânicas.
Não surpreende que as recriminações já tenham começado. Um dos principais comandantes das forças dos Estados Unidos no Iraque, o general Jack Kean, um dos proponentes do plano de reforço das forças de ocupação norte-americanas que está em vigor, se declarou "decepcionado e frustrado" com a situação em Basra.
Na semana passada, Tony Blair contratou o advogado norte-americano que negociou o contrato multimilionário de Bill Clinton para seu livro de memórias a fim de vender os direitos de sua autobiografia. Blair talvez devesse pensar na hipótese de dedicar o livro a Jacques Chirac. O ex-presidente francês, que serviu como recruta na guerra da Argélia, havia alertado Blair de que ele não seria bem recebido no Iraque e que a invasão poderia precipitar uma guerra civil.
Para definir insurgências coloniais como as da Argélia, Iraque e Afeganistão, o escritor Rudyard Kipling usou a expressão "selvagens guerras da paz", com base na experiência dos soldados britânicos nas mesmas montanhas afegãs em que o Taleban volta a se concentrar, para as quais o general Darrett não tem como enviar os reforços necessários devido à situação em Basra e que ainda abrigam Osama bin Laden.


KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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