São Paulo, terça-feira, 23 de setembro de 2008

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MARCOS NOBRE

A crise e a regulação

A CRISE NO sistema financeiro produziu inesperadas concordâncias. Crise de confiança ou de liqüidez, o mais prudente é tratar dos dois problemas ao mesmo tempo. Os EUA devem oferecer crédito à vontade e comprar papéis que já não valem nada. Fazem o que os manuais dizem que o Federal Reserve e o Tesouro deveriam ter feito durante a crise de 1929.
Ficamos sabendo também que a culpa é toda da alavancagem, com suas securitizações, derivativos e "swaps". Vem daí a última e mais importante concordância do momento: é preciso regular o mercado financeiro, impedir uma alavancagem "excessiva" e limitar a securitização e a produção "descontrolada" de derivativos.
Parece lógico e coerente. Só não tem nada a [ ] ver com [ ] o capitalismo atual. Apareceu até gente apelando para a "moralidade" dos agentes econômicos. Francamente.
O mercado financeiro trata de encontrar na regulação existente as brechas, lacunas e interpretações que permitam ganhar mais dinheiro do que seguindo as regras habitualmente. É o que se chama de "inovação". É esse o sistema que se pretende regular? Como? Quem tem poder para isso? A última grande regulação do capitalismo desenvolvido precisou de uma Guerra Mundial (a Segunda) para ser realizada. E tinha como garantes (além do Exército dos EUA) nada menos do que o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial, hoje verdadeiros mortos-vivos. O que se tem agora é a segunda grande crise desse sistema de regulação do pós-Guerra. Com a diferença de que a primeira crise, de 1987, parece brincadeira perto da atual.
O mercado financeiro é global, mas não deixa de ter um centro, os EUA, e uma moeda, o dólar. O que está em jogo na crise é essa supremacia. Se os EUA decidissem regular seu mercado financeiro como pedem os analistas, simplesmente perderiam sua posição de centro do mercado financeiro mundial.
No momento, não estão à vista forças sociais e políticas capazes de impor a um mercado financeiro globalizado uma regulação que evite crises agudas. Nem movimentos econômicos que apontem no sentido de deslocar o centro do mercado financeiro dos EUA. Que o diga o movimento avassalador de compra de títulos do governo norte-americano no auge da crise.
"Se um banco concede um empréstimo sem saber se o cliente pode pagar, quem vai saber? O governo? Impossível". Foi o que disse Alan Greenspan, o ex-presidente do Federal Reserve responsável pela política menos "reguladora" e mais concentradora de renda das últimas décadas.
Ele sabe melhor do que ninguém do que está falando.

nobre.a2@uol.com.br

MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta coluna.



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