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MARCOS NOBRE
A crise e a regulação
A
CRISE NO sistema financeiro produziu inesperadas
concordâncias. Crise de
confiança ou de liqüidez, o mais
prudente é tratar dos dois problemas ao mesmo tempo. Os EUA devem oferecer crédito à vontade e
comprar papéis que já não valem
nada. Fazem o que os manuais dizem que o Federal Reserve e o Tesouro deveriam ter feito durante a
crise de 1929.
Ficamos sabendo também que a
culpa é toda da alavancagem, com
suas securitizações, derivativos e
"swaps". Vem daí a última e mais
importante concordância do momento: é preciso regular o mercado
financeiro, impedir uma alavancagem "excessiva" e limitar a securitização e a produção "descontrolada" de derivativos.
Parece lógico e coerente. Só não
tem nada a [ ] ver com [ ] o capitalismo
atual. Apareceu até gente apelando
para a "moralidade" dos agentes
econômicos. Francamente.
O mercado financeiro trata de
encontrar na regulação existente
as brechas, lacunas e interpretações que permitam ganhar mais dinheiro do que seguindo as regras
habitualmente. É o que se chama
de "inovação". É esse o sistema que
se pretende regular? Como? Quem
tem poder para isso?
A última grande regulação do capitalismo desenvolvido precisou
de uma Guerra Mundial (a Segunda) para ser realizada. E tinha como garantes (além do Exército dos
EUA) nada menos do que o Fundo
Monetário Internacional e o Banco
Mundial, hoje verdadeiros mortos-vivos. O que se tem agora é a segunda grande crise desse sistema de
regulação do pós-Guerra. Com a
diferença de que a primeira crise,
de 1987, parece brincadeira perto
da atual.
O mercado financeiro é global,
mas não deixa de ter um centro, os
EUA, e uma moeda, o dólar. O que
está em jogo na crise é essa supremacia. Se os EUA decidissem regular seu mercado financeiro como
pedem os analistas, simplesmente
perderiam sua posição de centro
do mercado financeiro mundial.
No momento, não estão à vista
forças sociais e políticas capazes de
impor a um mercado financeiro
globalizado uma regulação que evite crises agudas. Nem movimentos
econômicos que apontem no sentido de deslocar o centro do mercado
financeiro dos EUA. Que o diga o
movimento avassalador de compra
de títulos do governo norte-americano no auge da crise.
"Se um banco concede um empréstimo sem saber se o cliente pode pagar, quem vai saber? O governo? Impossível". Foi o que disse
Alan Greenspan, o ex-presidente
do Federal Reserve responsável
pela política menos "reguladora" e
mais concentradora de renda das
últimas décadas.
Ele sabe melhor do que ninguém
do que está falando.
nobre.a2@uol.com.br
MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta
coluna.
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