São Paulo, segunda-feira, 23 de outubro de 2006

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Falta investimento

PERSISTE a extraordinária melhora das contas externas brasileiras. Entre janeiro e setembro, o superávit em transações correntes, que inclui todas as operações do país com o exterior, alcançou US$ 10,1 bilhões. Esse resultado está associado ao desempenho das exportações, impulsionadas pelo comércio internacional e pelos preços das commodities.
Esses dados favoráveis, contudo, mascaram problemas que podem se explicitar mais à frente. No mesmo período, o investimento direto líquido, que considera a entrada menos a saída de investimento de brasileiros para o exterior, somou apenas US$ 4 bilhões, contra US$ 9,3 bilhões em 2005. A economia brasileira deixa de atrair investimentos e induz as corporações nacionais a procurar novos mercados.
Esse é o dado mais preocupante. Segundo a Unctad, agência da ONU, o real valorizado e o baixo crescimento da economia deixaram o Brasil fora da onda mundial de expansão do investimento estrangeiro direto (IED) de 2005. Enquanto o fluxo global de IED cresceu 29%, para US$ 916 bilhões, a fatia destinada ao Brasil caiu 17%, para US$ 15 bilhões.
Esses movimentos sinalizam alterações nas estratégias de produção das corporações. Já se observa uma forte substituição de bens de consumo duráveis nacionais por importados. O consumo interno tem crescido 4% ao ano, mas o PIB se expande em torno de 3% ao ano. Assim, a produção e o emprego estão "extravasando" para o exterior.
A redução da restrição externa da economia brasileira permite a reprodução desse modelo por mais algum tempo, mas os custos vão aparecer. Infelizmente, a melhora das condições de financiamento externo da economia brasileira não está sendo utilizada para a construção da sustentabilidade do crescimento da produção e do emprego.


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