São Paulo, segunda-feira, 23 de outubro de 2006

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

Lula entre Collor e Sarney

SÃO PAULO - Quanto menos justificável fica a situação de Lula diante do dossiegate, menor parece também a necessidade de o presidente se justificar. O escândalo deixou de ameaçar a reeleição do candidato, sem que, no entanto, os fatos relacionados ao caso deixassem de apontar para o presidente.
Lula descolou da crise, apesar de estar mais perto dela do que nunca -este o paradoxo. Exceto um ou outro tucano mais avoado, quase ninguém acredita em reversão da lavada, inesperada até há pouco, que se avizinha das urnas.
Tudo indica portanto que Lula será reeleito com ampla maioria, mas também com um passivo de escândalos mal ou não explicados. A questão política relevante que se coloca agora é: haverá 3º turno?
O imponderável é a matéria-prima da história, mas se sabe desde já que a banda udenista da oposição sai em farrapos das eleições. Bornhausen, Tasso e ACM terão que juntar os próprios cacos antes de falar grosso. Além da debilidade do PFL, Lula terá a seu favor a força do PMDB (que deve vencer agora no Rio e talvez no Paraná). Terá ainda a seu lado os três principais Estados do Nordeste: Jaques Wagner na Bahia, Eduardo Campos em Pernambuco e Cid Gomes no Ceará.
A oposição ao presidente que de fato conta finca seu poder em São Paulo e Minas, tendo Yeda Crusius no Sul como provável coadjuvante. Mas nem Serra nem Aécio vão endossar o jogo do tapetão, que o primeiro, a amigos, chama de "golpe".
Os tucanos que entram em 2007 já de olho em 2010 preferem e apostam num segundo mandato lulista com o jeito do governo Sarney, desgastado progressivamente em sua própria fisiologia e desmoralizado no final, mas não batido.
Não lhes interessa um governo interrompido pela via do impeachment ou da impugnação, como foi Collor. A vocação acomodatícia de Lula e a atual correlação de forças entre "azuis" e "vermelhos" projetam sobre o segundo mandato a sombra dos anos Sarney. Ressalve-se apenas que nem tudo na história se resume a farsas e tragédias.


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