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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Lula entre Collor e Sarney
SÃO PAULO - Quanto menos justificável fica a situação de Lula
diante do dossiegate, menor parece
também a necessidade de o presidente se justificar. O escândalo deixou de ameaçar a reeleição do candidato, sem que, no entanto, os fatos relacionados ao caso deixassem
de apontar para o presidente.
Lula descolou da crise, apesar de
estar mais perto dela do que nunca
-este o paradoxo. Exceto um ou
outro tucano mais avoado, quase
ninguém acredita em reversão da
lavada, inesperada até há pouco,
que se avizinha das urnas.
Tudo indica portanto que Lula
será reeleito com ampla maioria,
mas também com um passivo de escândalos mal ou não explicados. A
questão política relevante que se
coloca agora é: haverá 3º turno?
O imponderável é a matéria-prima da história, mas se sabe desde já
que a banda udenista da oposição
sai em farrapos das eleições. Bornhausen, Tasso e ACM terão que
juntar os próprios cacos antes de falar grosso. Além da debilidade do
PFL, Lula terá a seu favor a força do
PMDB (que deve vencer agora no
Rio e talvez no Paraná). Terá ainda
a seu lado os três principais Estados
do Nordeste: Jaques Wagner na Bahia, Eduardo Campos em Pernambuco e Cid Gomes no Ceará.
A oposição ao presidente que de
fato conta finca seu poder em São
Paulo e Minas, tendo Yeda Crusius
no Sul como provável coadjuvante.
Mas nem Serra nem Aécio vão endossar o jogo do tapetão, que o primeiro, a amigos, chama de "golpe".
Os tucanos que entram em 2007
já de olho em 2010 preferem e apostam num segundo mandato lulista
com o jeito do governo Sarney, desgastado progressivamente em sua
própria fisiologia e desmoralizado
no final, mas não batido.
Não lhes interessa um governo
interrompido pela via do impeachment ou da impugnação, como foi
Collor. A vocação acomodatícia de
Lula e a atual correlação de forças
entre "azuis" e "vermelhos" projetam sobre o segundo mandato a
sombra dos anos Sarney. Ressalve-se apenas que nem tudo na história
se resume a farsas e tragédias.
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