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ELIANE CANTANHÊDE
Matando cachorro a grito
BRASÍLIA - Segundo dados macroeconômicos do IBGE, o desemprego caiu e a renda cresceu, voltando aos patamares pré-crise.
Mas, segundo dados da realidade,
colhidos pela Folha numa quilométrica fila de inscrição de concurso no Rio, a coisa é bem feia.
São 1.400 vagas para gari. Fora tíquete alimentação, vale-transporte
e plano de saúde, o salário é de R$
486,10. O suficiente para atrair
109.193 inscritos até ontem, dos
quais 45 doutores, 22 mestres,
1.026 com nível superior completo
e 3.180 incompleto.
Seria uma competição injusta
com os que só têm até a quarta série
do ensino fundamental -o mínimo
exigido para a inscrição-, não fosse
a inclusão de testes como flexões
abdominais e corrida, literalmente
mais suados e mais úteis que títulos
e canudos para uma profissão tão
sofrida quanto necessária. O risco é
o sujeito ou a sujeita sair com a sensação de que estudou tanto, mas
nem para gari serve.
Mal tiram a beca da formatura, a
engenheira corre para um concurso de fiscal da Receita, o jornalista
disputa qualquer vaga em qualquer
repartição pública, o administrador
de empresas aceita ser digitador no
Itamaraty. Advogados caem às pencas de toda parte, até de táxis e quadros de portaria.
Na posse do ministro Samuel Pinheiro Guimarães (SAE), terça-feira, Lula encheu o peito para dizer
que o ProUni colocou quase o mesmo número de estudantes que as
universidades federais desde elas
que existem. Mas para quê?
Há muito investimento a fazer
em educação, inclusive no ensino
público superior e no profissionalizante, e há dúvidas sobre essa multiplicação de vagas particulares.
Enche as burras de entidades privadas e tende a frustrar profissionais com diplomas inúteis na parede da sala. Será que é assim que se
melhora o IDH, a qualidade do emprego e a própria educação?
PS: Ainda dá tempo. As inscrições para gari no Rio só terminam
hoje.
elianec@uol.com.br
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