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CESAR MAIA
Voto conservador
Provavelmente a agenda
conservadora da eleição presidencial brasileira (valores
cristãos, aborto) seja parte de
uma agenda conservadora
global, que toma conta da Europa e dos EUA.
Dias atrás, a Internacional
Democrata de Centro, IDC,
(cuja base é o Partido Popular
Europeu, PPE, partido de centro-direita, maioria no Parlamento Europeu), reuniu-se
em Marrakech. Estava presente o Istiqlal, partido da independência, que governa, ao
lado do rei Mahome 4º, o Marrocos, realizando reformas
liberalizantes.
O Marrocos é um país islâmico, sunita, muçulmano,
mas com liberdade religiosa.
Com a inclusão do Istiqlal, a
IDC incorpora um partido islâmico e altera, de fato, a sua denominação (democrata-cristã)
para democrata de centro.
No discurso, o líder do PPE,
W. Martin, ex-primeiro-ministro da Bélgica, falou de um clima de desconfiança por parte
da opinião pública europeia.
Afirmou que a questão básica,
pré-crise financeira, é o debilitamento dos valores cristãos,
os mesmos dos islâmicos sunitas em relação à vida e à família. E disse: "O PPE tem que ser
um partido de valores"; "somos uma união de valores
cristãos e conservadores, que
são a fonte da democracia".
O primeiro-ministro do Marrocos, Abas El Fassi, completou: "Cremos nos valores, nos
direitos humanos, no pluripartidarismo, somos contra o
racismo, contra os fundamentalismos".
Nesta semana, Merkel, primeira-ministra alemã, afirmava em relação aos muçulmanos, para amplo destaque na
imprensa europeia: "Os esforços para construir uma sociedade multicultural fracassaram absolutamente".
Cerca de
60% dos alemães concordaram. Semanas atrás, Berlusconi afirmava sua intolerância
com os ciganos. Não foi diferente Sarkozy, relacionando-os à delinquência. E abriu sua
clara oposição ao uso do véu
islâmico em lugares públicos e
nas escolas.
No início de novembro, realizam-se nos EUA eleições para a Câmara dos Deputados. A
ala mais conservadora do Partido Republicano (Tea Party)
obteve vitórias nas primárias.
Radicaliza em relação ao aborto, ao casamento, aos indocumentados hispânicos. Já não
se têm dúvidas da derrota do
Partido Democrata e do avanço conservador.
O que se aguarda é o quanto
a representação mais conservadora avançará no Parlamento. Já se demonstrou, por
pesquisas nacionais, que o
"partido" majoritário no Brasil
é conservador nos valores e estatizante na economia. A onda
azul chegou por aqui e só fez
aflorar o que já existia.
Aliás, onda que já entrou
pela Colômbia e pelo Chile.
CESAR MAIA escreve aos sábados nesta
coluna.
cesar.maia@uol.com.br
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