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TENDÊNCIAS/DEBATES
O Brasil deve mudar sua política cambial?
SIM
Articulação de políticas econômicas
MARIA ALEJANDRA CAPORALE MADI
"A moeda é nossa, o problema é
de vocês". Barry Eichengreen, em
"A Globalização do Capital", cita a
frase de John Connally, secretário
do Tesouro norte-americano, para
sintetizar os impactos da gestão do
dólar sobre a economia mundial
após os anos 1970.
Nesse período, a liberalização financeira problematizou a manutenção do regime cambial fixo nas
nações que organizaram sua política econômica em função da integração internacional.
No Brasil, após a crise asiática
em 1998, a introdução do regime de
câmbio flutuante representou resposta à impossibilidade de conjugar, simultaneamente, três condições: regime de câmbio fixo, autonomia da política monetária e mobilidade internacional de capitais.
A partir de julho de 1999, a política de estabilidade monetária assume a posição de protagonista na
gestão macroeconômica, baseada
no tripé metas de inflação, câmbio
flutuante e superavit primário.
Sob o impacto da evolução da
crise global de 2008, Olivier Blanchard, economista-chefe do FMI,
destacou que a política de metas inflacionárias foi incapaz de enfrentar os desafios na gestão da crise.
A absorção de choques financeiros foi inviabilizada pela ausência
de articulação entre a política financeira e as políticas macroeconômicas, assim como pela falta de
coordenação entre as políticas monetária, cambial e fiscal.
Desse modo, são necessários mecanismos de intervenção cambial
combinados aos de regulação financeira prudencial para atingir a
estabilidade cambial.
Essas considerações levam a
pensar nos desdobramentos da crise, no que diz respeito aos limites
do crescimento econômico.
As desvalorizações do dólar e do
yuan redefinem o fluxo de exportações de manufaturados no quadro
internacional de desalinhamentos
cambiais. No Brasil, apesar do expressivo volume de reservas internacionais e das possibilidades
abertas pelo pré-sal, há preocupações com a deterioração da conta
corrente e com os efeitos da apreciação do real sobre as exportações.
Pode-se considerar que a apreciação do real é fortemente condicionada pelo diferencial entre as taxas de juros internas e externas, o
que favorece a atração de capital
estrangeiro para a compra de títulos de renda fixa e de ativos na Bolsa de Valores.
Essa situação minimiza o espaço
de manobra do Banco Central em
decorrência da presença da especulação no cenário financeiro contemporâneo. Dessa forma, a mobilidade e a liquidez da riqueza financeira reforçam a apreciação cambial, com consequências decisivas
na indústria manufatureira, que
perde competitividade.
Pode-se então perguntar: é possível ter expectativas de crescimento econômico com inclusão social,
mantida a política cambial vigente?
Não. Entende-se que é necessário o
uso de medidas dirigidas à intervenção no mercado cambial que estejam articuladas a mecanismos de
regulação financeira prudencial.
Assim, o Banco Central poderá
conduzir a política cambial de modo a reduzir o impacto da especulação sobre a volatilidade e a ampliar
os instrumentos para restringir a
alavancagem em mercados futuros. Dessa forma, a estabilidade do
câmbio torna-se objetivo do Banco
Central, ao lado da estabilidade
monetária.
Nesse sentido, é indispensável
uma reconfiguração das políticas
macroeconômicas e financeira,
vinculada às diretrizes de uma política industrial que estimule fluxos
de investimento, de produção e de
exportações.
Como resultado, espera-se que
essa redefinição de políticas alicerce uma taxa real de câmbio competitiva na economia global.
MARIA ALEJANDRA CAPORALE MADI, formada em
ciências econômicas pela USP, é mestre e doutora
em economia pela Unicamp, na qual é professora do
Instituto de Economia.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
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