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CLÓVIS ROSSI
O Bolshoi e o corte de cana
SÃO PAULO - As autoridades educacionais brasileiras deveriam chamar um certo Tião Rocha para ser
uma espécie de animador da educação brasileira.
Tião é antropólogo de formação,
mas, na vida real, é um desses malucos, benditos malucos, capazes de
largar o cargo de professor de universidade (a Federal de Ouro Preto)
para ser educador popular.
Qual é a diferença entre ser professor e ser educador? "Professor
ensina, educador aprende", responde esse fanático por Guimarães Rosa que acaba de ser escolhido Empreendedor Social 2007, uma parceria entre esta Folha e a Fundação
Schwab.
Tião é também uma usina de
idéias, parte das quais pode ser
acompanhada no caderno especial
sobre os empreendedores sociais
que o jornal publicou ontem.
O espaço aqui é pequeno demais
mesmo para um microresumo de
seus projetos. Não se trata do que
Sérgio Motta chamaria de "masturbação educacional" não. Tião e a
comunidade do vale do Jequitinhonha, a área mais pobre das Minas
Gerais, põem os projetos em prática. Vale, de todo modo, ousar reproduzir o conceito básico dele:
acompanhar os alunos para ver
quais são seus problemas específicos e encontrar solução para eles.
Exemplo concreto: um dado dia,
Tião trombou com um garoto excelente no jogo de damas, mas péssimo em matemática. Usou o jogo para dar noções de aritmética ao menino. Funcionou, até porque outro
princípio do educador é que se deve
aprender brincando.
Brincando, quatro de seus alunos
estão no balé Bolshoi, filial de Joinville. "Perder alunos para o Bolshoi,
pode. O que não pode é perder alunos para o corte de cana", uma fatalidade no Jequitinhonha, diz Tião.
Se todo o Brasil pudesse perder
alunos para o futuro, em vez de para o atraso, o país seria imensamente melhor.
crossi@uol.com.br
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