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NELSON MOTTA
Almoço grátis na selva
RIO DE JANEIRO - Na época do
Descobrimento, os índios brasileiros estavam muito mais atrasados
em relação às civilizações maia, inca e asteca do que nós estamos hoje
diante dos Estados Unidos. Mas a
Guatemala, o Peru e o México não
conseguiram tirar grandes proveitos das civilizações de seus antepassados, que em muitos campos eram
mais adiantadas do que a européia
da época.
Enquanto os maias, os incas e os
astecas construíam cidades e monumentos grandiosos, tinham linguagem escrita, códigos de leis, estudavam astronomia e matemática
... os índios brasileiros se dedicavam
à caça e à pesca, às raízes e aos frutos, ao desfrute dos instintos e à
guerra contra os vizinhos. E estavam felicíssimos assim, sem qualquer outra necessidade ou ambição:
o zen-tupi.
Mesmo no quesito "selvageria",
as diferenças eram gritantes: nos
sacrifícios humanos dos astecas, o
coração dos inimigos era arrancado
e oferecido às divindades da guerra;
os índios norte-americanos tinham
o péssimo costume de tirar o escalpo dos perdedores e exibi-los como
troféus sangrentos, deixando-os
não só mortos como humilhados e
carecas; os jivaros equatorianos e
venezuelanos cortavam e encolhiam as cabeças inimigas e costuravam as suas bocas.
Já os brasileiros ancestrais
uniam o útil ao agradável: devoravam os vizinhos, uma carne mais
saborosa do que de macaco ou anta.
E com a grande vantagem de, ao comê-la, adquirir as qualidades que o
guerreiro levou a vida inteira para
desenvolver em sua tribo.
Sem trabalhar, sem estudar, sem
sacrifícios, sem nenhum estresse
além de um músculo mais duro de
mastigar, os antropófagos brasileiros se sentiam mais corajosos, mais
fortes, mais sábios e mais belos depois do almoço grátis. Questão de
fisiologia. Ou de destino.
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