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ELIANE CANTANHÊDE
Pés pelas mãos
BRASÍLIA - O procurador Luiz
Francisco foi decisivo para a faxina
no Acre, que trocou uma quadrilha
com múltiplos CPFs e serras elétricas assassinas por jovens saídos das
universidades cheios de amor e de
exemplos éticos para dar.
Ao ampliar o pequeno universo
do Acre pela complexidade Brasil,
porém, Luiz Francisco botou os pés
pelas mãos, a ponto de contrabandear o e-mail de um adversário político numa autorização judicial de
grampo que não tinha nada a ver.
A Polícia Federal está seguindo,
como instituição, os passos de Luiz
Francisco, como procurador. Foram dezenas de operações com nomes curiosos, como Sanguessuga,
Anaconda, Matusalém, Farol da
Colina, tendo como alvo bicheiros,
juízes, advogados, deputados, senadores e... até delegados e agentes
das próprias polícias. Quantas vezes, neste mesmo espaço, houve
fartos elogios à diligência, à competência e à coragem da PF para acabar com a certeza de que, no Brasil,
só pobre vai preso?
Mas, sob aplausos da opinião pública e frustração com o falho sistema judiciário, a PF, como Luiz
Francisco, foi se exasperando e acabou igualmente botando os pés pelas mãos e achando que os fins justificam os meios. Basta "saber" que
fulano é bandido ou que todo banqueiro tem culpa no cartório para
jogar leis e manuais fora.
De Luiz Francisco para Protógenes foi um passo. Imbuídos da missão de salvar o país, quiçá o mundo,
de indivíduos ricos, poderosos e
nem sempre escrupulosos, eles se
sentiram livres para fazer qualquer
coisa. Nem perceberam que, ao agir
assim, conseguem exatamente o
oposto do que pretendiam. Seus alvos, que deveriam ser réus, se tornam vítimas e desfilam por aí, indignados e prontos para serem santificados em praça pública.
Para tentar "fazer o bem", os
messiânicos se tornam, assim, os algozes de suas próprias instituições.
Eles põem os pés pelas mãos; e elas
tropeçam e se esborracham.
ecantanhede@uol.com.br
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