São Paulo, domingo, 23 de novembro de 2008

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ELIANE CANTANHÊDE

Pés pelas mãos

BRASÍLIA - O procurador Luiz Francisco foi decisivo para a faxina no Acre, que trocou uma quadrilha com múltiplos CPFs e serras elétricas assassinas por jovens saídos das universidades cheios de amor e de exemplos éticos para dar.
Ao ampliar o pequeno universo do Acre pela complexidade Brasil, porém, Luiz Francisco botou os pés pelas mãos, a ponto de contrabandear o e-mail de um adversário político numa autorização judicial de grampo que não tinha nada a ver.
A Polícia Federal está seguindo, como instituição, os passos de Luiz Francisco, como procurador. Foram dezenas de operações com nomes curiosos, como Sanguessuga, Anaconda, Matusalém, Farol da Colina, tendo como alvo bicheiros, juízes, advogados, deputados, senadores e... até delegados e agentes das próprias polícias. Quantas vezes, neste mesmo espaço, houve fartos elogios à diligência, à competência e à coragem da PF para acabar com a certeza de que, no Brasil, só pobre vai preso?
Mas, sob aplausos da opinião pública e frustração com o falho sistema judiciário, a PF, como Luiz Francisco, foi se exasperando e acabou igualmente botando os pés pelas mãos e achando que os fins justificam os meios. Basta "saber" que fulano é bandido ou que todo banqueiro tem culpa no cartório para jogar leis e manuais fora.
De Luiz Francisco para Protógenes foi um passo. Imbuídos da missão de salvar o país, quiçá o mundo, de indivíduos ricos, poderosos e nem sempre escrupulosos, eles se sentiram livres para fazer qualquer coisa. Nem perceberam que, ao agir assim, conseguem exatamente o oposto do que pretendiam. Seus alvos, que deveriam ser réus, se tornam vítimas e desfilam por aí, indignados e prontos para serem santificados em praça pública.
Para tentar "fazer o bem", os messiânicos se tornam, assim, os algozes de suas próprias instituições. Eles põem os pés pelas mãos; e elas tropeçam e se esborracham.

ecantanhede@uol.com.br


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