|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
EMÍLIO ODEBRECHT
Confiar e crescer
PESSOAS , empresas e nações
reagem a crises de formas diferentes. Algumas, resignadas, recolhem-se e esperam o que
virá. Outras encaram a adversidade
como oportunidade para construir
algo melhor, o que requer percepção aguçada, alguma intuição, certa dose de coragem e competência
para usar as forças das circunstâncias.
Em nossa organização, sempre
optamos pelo segundo caminho.
Possivelmente por razões culturais e históricas, as empresas japonesas escolheram a primeira das
alternativas acima, quando, nos
anos 1990, depois de um longo período de prosperidade, a crise chegou ao Japão.
As pessoas guardaram o dinheiro
em casa e adiaram suas compras.
As empresas deixaram de investir e
demitiram em massa. O resultado
foi mais de uma década de estagnação econômica.
Lembrei-me do exemplo japonês porque a esta altura, no auge da
crise que começou há mais de um
ano, nossa preocupação não é mais
compreender suas razões ou suas
origens, mas evitar que o efeito dominó nos alcance e nos derrube.
Economia é o ambiente onde
pessoas e empresas trocam bens,
serviços, tempo, energia, dinheiro.
A saúde do organismo econômico
depende, portanto, das combinações possíveis entre o desempenho
dos empresários na produção de riquezas, as possibilidades de compra dos indivíduos que as adquirem e as políticas e diretrizes dos
governos, que têm a responsabilidade de regular e, principalmente,
fomentar a atividade produtiva, incentivando investimentos.
O governo brasileiro tem procurado fazer o seu papel, liberando linhas de crédito para vários setores.
Mas há dois novos riscos em nosso
horizonte.
O primeiro diz respeito exatamente ao incremento dos investimentos. Há recursos disponíveis
entesourados à espera de pechinchas, mas a transferência de empresas doentes para as mãos de outros donos, neste momento, no
máximo será capaz de nos manter
onde estamos.
O segundo é a restrição do crédito ao consumidor porque o horizonte ainda é de incerteza e os
agentes financeiros temem uma
onda de redução dos postos de trabalho. Ocorre que, assim, o círculo
vicioso vai rodar ao contrário: sem
crédito não haverá consumo e, sem
consumidores, a redução dos postos de trabalho será inevitável.
Não será com a transferência dos
ativos dos que se fragilizaram ou
com o dinheiro protegido nos cofres que vamos sair da crise.
Os brasileiros não podem perder
a confiança no futuro, e a condição
para isso é investir para crescer.
Cabe ao governo ampliar suas
ações nesta direção.
EMÍLIO ODEBRECHT escreve nesta coluna três
domingos por mês.
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Tempo em três tempos Próximo Texto: Frases
Índice
|