São Paulo, domingo, 23 de novembro de 2008

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EMÍLIO ODEBRECHT

Confiar e crescer

PESSOAS , empresas e nações reagem a crises de formas diferentes. Algumas, resignadas, recolhem-se e esperam o que virá. Outras encaram a adversidade como oportunidade para construir algo melhor, o que requer percepção aguçada, alguma intuição, certa dose de coragem e competência para usar as forças das circunstâncias. Em nossa organização, sempre optamos pelo segundo caminho.
Possivelmente por razões culturais e históricas, as empresas japonesas escolheram a primeira das alternativas acima, quando, nos anos 1990, depois de um longo período de prosperidade, a crise chegou ao Japão. As pessoas guardaram o dinheiro em casa e adiaram suas compras.
As empresas deixaram de investir e demitiram em massa. O resultado foi mais de uma década de estagnação econômica. Lembrei-me do exemplo japonês porque a esta altura, no auge da crise que começou há mais de um ano, nossa preocupação não é mais compreender suas razões ou suas origens, mas evitar que o efeito dominó nos alcance e nos derrube.
Economia é o ambiente onde pessoas e empresas trocam bens, serviços, tempo, energia, dinheiro.
A saúde do organismo econômico depende, portanto, das combinações possíveis entre o desempenho dos empresários na produção de riquezas, as possibilidades de compra dos indivíduos que as adquirem e as políticas e diretrizes dos governos, que têm a responsabilidade de regular e, principalmente, fomentar a atividade produtiva, incentivando investimentos.
O governo brasileiro tem procurado fazer o seu papel, liberando linhas de crédito para vários setores. Mas há dois novos riscos em nosso horizonte.
O primeiro diz respeito exatamente ao incremento dos investimentos. Há recursos disponíveis entesourados à espera de pechinchas, mas a transferência de empresas doentes para as mãos de outros donos, neste momento, no máximo será capaz de nos manter onde estamos.
O segundo é a restrição do crédito ao consumidor porque o horizonte ainda é de incerteza e os agentes financeiros temem uma onda de redução dos postos de trabalho. Ocorre que, assim, o círculo vicioso vai rodar ao contrário: sem crédito não haverá consumo e, sem consumidores, a redução dos postos de trabalho será inevitável.
Não será com a transferência dos ativos dos que se fragilizaram ou com o dinheiro protegido nos cofres que vamos sair da crise.
Os brasileiros não podem perder a confiança no futuro, e a condição para isso é investir para crescer.
Cabe ao governo ampliar suas ações nesta direção.


EMÍLIO ODEBRECHT escreve nesta coluna três domingos por mês.


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