|
Próximo Texto | Índice
META E METRO
A necessidade de rever as metas de inflação para 2003 já foi
oficialmente reconhecida: na revisão
do acordo entre o governo brasileiro
e o FMI divulgada na semana passada, as metas para o final de 2002 e os
três primeiros trimestres de 2003 foram elevadas. Essas metas correspondem à alta acumulada pelo IPCA
nos últimos 12 meses. A meta do final de 2002 passou de 9% para 11%; a
de setembro de 2003 (quando se encerra o acordo com o FMI) subiu de
7,5% para 9,5%.
Os novos números são bem menos
irreais do que os precedentes, mas
ainda parecem demasiado ambiciosos. A meta para o final de 2002, por
exemplo, supõe que, depois de subir
10,2% entre janeiro e novembro, o IPCA suba menos de 0,8% em dezembro -quando a expectativa média
do mercado, segundo apuração do
Banco Central, é de que a inflação de
dezembro fique próxima de 2%.
As metas para março, junho e mesmo setembro de 2003 também parecem muito difíceis de cumprir. Tendo subido 8,6% entre abril e novembro de 2002, para atingir taxa acumulada em 12 meses de 10,5% em março, o IPCA teria de subir apenas
0,43% ao mês entre dezembro e março -uma desaceleração drástica que
não parece factível.
Raciocínio análogo vale para as
metas de junho e setembro de 2002.
O ponto é que, mesmo que a inflação
se desacelere de maneira expressiva
ao longo de 2003, as altas taxas observadas no segundo semestre de
2002 continuarão a dificultar muito o
cumprimento das metas.
Uma dose de equilíbrio é fundamental na revisão das metas de inflação. Revisão muito "generosa" seria
perigosa, por sinalizar falta de rigor
contra a inflação. Já uma revisão
muito limitada, como a que foi feita,
mantém a política de juros sob pressão excessiva: somente um choque
de juros, recessivo, poderia viabilizar
o cumprimento dessas metas. Parece
recomendável, assim, que se pleiteie
do FMI uma revisão no modo de medir o esforço antiinflacionário, para
reduzir a influência da grande "bolha" de alta de preços que a disparada do dólar provocou no segundo semestre de 2002.
Próximo Texto: Editoriais: SALÁRIO HIPÓCRITA Índice
|