São Paulo, segunda-feira, 23 de dezembro de 2002

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META E METRO

A necessidade de rever as metas de inflação para 2003 já foi oficialmente reconhecida: na revisão do acordo entre o governo brasileiro e o FMI divulgada na semana passada, as metas para o final de 2002 e os três primeiros trimestres de 2003 foram elevadas. Essas metas correspondem à alta acumulada pelo IPCA nos últimos 12 meses. A meta do final de 2002 passou de 9% para 11%; a de setembro de 2003 (quando se encerra o acordo com o FMI) subiu de 7,5% para 9,5%.
Os novos números são bem menos irreais do que os precedentes, mas ainda parecem demasiado ambiciosos. A meta para o final de 2002, por exemplo, supõe que, depois de subir 10,2% entre janeiro e novembro, o IPCA suba menos de 0,8% em dezembro -quando a expectativa média do mercado, segundo apuração do Banco Central, é de que a inflação de dezembro fique próxima de 2%.
As metas para março, junho e mesmo setembro de 2003 também parecem muito difíceis de cumprir. Tendo subido 8,6% entre abril e novembro de 2002, para atingir taxa acumulada em 12 meses de 10,5% em março, o IPCA teria de subir apenas 0,43% ao mês entre dezembro e março -uma desaceleração drástica que não parece factível.
Raciocínio análogo vale para as metas de junho e setembro de 2002. O ponto é que, mesmo que a inflação se desacelere de maneira expressiva ao longo de 2003, as altas taxas observadas no segundo semestre de 2002 continuarão a dificultar muito o cumprimento das metas.
Uma dose de equilíbrio é fundamental na revisão das metas de inflação. Revisão muito "generosa" seria perigosa, por sinalizar falta de rigor contra a inflação. Já uma revisão muito limitada, como a que foi feita, mantém a política de juros sob pressão excessiva: somente um choque de juros, recessivo, poderia viabilizar o cumprimento dessas metas. Parece recomendável, assim, que se pleiteie do FMI uma revisão no modo de medir o esforço antiinflacionário, para reduzir a influência da grande "bolha" de alta de preços que a disparada do dólar provocou no segundo semestre de 2002.


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