São Paulo, segunda-feira, 23 de dezembro de 2002 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Choque de auto-estima
RUY MARTINS ALTENFELDER SILVA
O setor industrial, por exemplo, estimulando e potencializando o esforço de investimento das empresas, sempre manteve, por intermédio do Senai, um modelo de educação profissional focado nas demandas reais do mercado, com o objetivo de formar profissionais sempre aptos aos processos produtivos de ponta e alinhados aos mais contemporâneos conceitos de cidadania. Em São Paulo, o Senai implantou até mesmo cursos superiores nos últimos cinco anos, passando a formar tecnólogos em áreas como mecatrônica e tecnologia de meio ambiente -estratégicas sob o prisma do novo padrão produtivo mundial. Nesse aspecto, observa-se muita sintonia entre os setores público e privado paulistas, já que uma das prioridades atuais do governo do Estado foi ampliar a formação de tecnólogos, por meio de programa, em andamento, de multiplicação de unidades da Fatec (Faculdade de Tecnologia). É estimulante visitar as escolas do Senai e assistir a centenas de jovens, nos cursos técnicos e superiores, aprendendo a trabalhar, a manejar complexos equipamentos e assimilando conhecimentos teóricos e práticos de alto nível, adquirindo, assim, grau elevado de empregabilidade e crença mais firme no seu futuro como profissionais e cidadãos. Exemplos como estes, agregados a políticas públicas em curso no Estado, como o fomento da tecnologia, o incentivo aos investimentos das pequenas e médias empresas, a organização de "clusters" nas regiões interioranas e o desenvolvimento da indústria do turismo, são ingredientes importantes para um choque de auto-estima na sociedade brasileira. Temos problemas, sim, mas avançamos muito, inclusive no exercício da democracia, conforme foi possível constatar nas eleições de 2002. Não basta, contudo, que a sociedade civil, como sempre tem feito, reaja às condições adversas do cenário internacional e às dificuldades econômicas e sociais persistentes no plano interno. Os homens públicos, em especial os que receberam a bênção cidadã do voto, precisam fazer sua parte para que o país siga de cabeça erguida em sua saga rumo ao desenvolvimento. Isso implica a realização das reformas ainda estagnadas, como a tributária e a previdenciária, além da modernização da legislação trabalhista, à luz da nova realidade mundial. Nesse contexto, tarefa urgente e prioritária, inclusive em respeito ao civismo, patriotismo e forma ordeira como o brasileiro compareceu em massa às eleições de 2002, é a reforma política. A sociedade demonstrou estar muito à frente da legislação em termos de consciência democrática. O mais importante item a ser instituído é a fidelidade, não só partidária, mas ao mandato. Um povo que exercitou o voto como gesto de esperança não pode assistir à festa do fisiologismo, como se verifica nos anúncios de mudanças para partidos instalados no poder. Quem elegeu deputados e senadores, confiando-lhes a responsabilidade de representação no Parlamento, não merece o desrespeito de ouvir que este ou aquele preferem cargos no Executivo, em vez de cumprirem seus mandatos. O país precisa de um Código Eleitoral definitivo, que incorpore esses e outros avanços, como o voto distrital misto, a eleição direta dos suplentes de senadores e proporcionalidade população/cadeiras mais justa das bancadas dos Estados na Câmara dos Deputados. O brasileiro entendeu plenamente ser o exercício da política o seu principal meio de atuar como sujeito da história. Mais do que nunca, é necessária a contrapartida de um choque de auto-estima, com medidas firmes e eficazes para a modernização do arcabouço legal e continuidade do processo de desenvolvimento. Ruy Martins Altenfelder Silva, 63, advogado, é secretário da Ciência, Tecnologia, Desenvolvimento Econômico e Turismo do Estado de São Paulo e presidente do Instituto Roberto Simonsen. Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Cesar Maia: O PT e a cama-de-gato Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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