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SERGIO COSTA
Capitalismo de botequim
RIO DE JANEIRO - Caça-níquel.
O nome diz tudo. É em busca das
moedinhas dos mais pobres que
quadrilhas deflagraram uma guerra
que já matou mais de 50 e corrompeu parte significativa das polícias
daqui. A lógica é a mesma que fez do
bicho quase uma instituição no século passado. Não por acaso, são os
herdeiros dos grandes bicheiros, associados a maus policiais, que dominam a jogatina.
O segredo do bicho sempre foi
sua faceta "democrática": qualquer
um pode apostar o que quiser. Vale
o que está escrito. Caraminguás do
povão construíram a fortuna de bicheiros que mantinham e mantêm
uma invejável rede de captação de
recursos. Olhe na sua esquina, na
rua da delegacia, ao lado do boteco.
A diferença das loterias federais é
que esse azar não paga imposto.
Mas acabou tolerado a partir de um
pilar capitalista: a lei da oferta e da
procura. Essa tolerância tem um
preço, pago a autoridades.
O caça-níquel é uma espécie de
industrialização do bicho. O apontador é substituído por uma máquina contrabandeada que toma o dinheiro de quem mais precisa e o devolve, como prêmio, numa proporção infinitamente inferior.
A máquina não tem fome, filho ou
salário. Fica ali, encostada no azulejo do botequim. Com uns dias de
apostas incautas, se paga. O resto é
lucro. O aposentado troca 5 pratas
em moedas de 25 centavos e as deixa para o "patrão". De vez em quando, tira o da cerveja, quando não arrisca tudo de novo. É assim em Bangu, na zona oeste, é assim em Las
Vegas, no Velho Oeste.
Se é por essas moedas, multiplicadas por milhões, que se mata e se
corrompe, melhor fariam os apostadores, já que a polícia mudou de
time e o real é forte, se as juntassem
num cofrinho. Poderiam, mais tarde, comprar algo útil, movimentar a
economia e nos poupar de nova
tentação aos espertos de sempre.
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