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ANTONIO DELFIM NETTO
Sucesso
em 2010
EM 2009, A ÁREA econômica do
governo (Orçamento e Fazenda) e o Banco Central agiram bem e, ajudados por Lula, encurtaram as consequências da crise financeira internacional.
Com o aumento das despesas do
governo (mais de 16% quando
comparamos janeiro/setembro
com o mesmo período de 2008) e a
política monetária na direção correta, mas sempre atrasada e homeopática, vamos, afinal, terminar
o ano com um crescimento próximo de zero, o que, certamente, não
é pouca coisa. É possível discutir a
política "anticíclica" e a qualidade
dos gastos. Do aumento de despesas até setembro, apenas pouco
mais que 4% destinaram-se a investimentos. O grosso do aumento
(mais de 30%) foi com as despesas
de pessoal, Previdência (32%) e
custeio (20%), que são permanentes e crescentes...
Na política monetária, o erro inicial foi propagar a "filosofia" de que
banco grande é mais seguro do que
banco pequeno e que os dois são
menos seguros que os bancos públicos. Nosso sistema bancário é
razoavelmente hígido. É verdade
que o contribuinte é sempre chamado a pagar os erros dos bancos
privados. Mas o mesmo acontece
com os bancos públicos! A grande
diferença é que os bancos "oficiais", quando bem geridos (o que é
o caso do Banco do Brasil, por
exemplo), mostraram-se excelentes instrumentos para a execução
de políticas públicas.
O sucesso da política econômica
se deveu a dois fatos: 1) à relativamente baixa e monotonicamente
decrescente relação dívida pública/PIB e 2) ao nível elevado e crescente das nossas reservas internacionais. É fato empírico que a primeira (e a expectativa de sua evolução) influi de forma importante na
formação da taxa de juros. Terminaremos 2009 com uma relação dívida líquida/PIB da ordem de 45%,
com um superavit primário pouco
maior do que 1% (contra 39% e
3,7%, respectivamente, em 2008).
Para 2010, temos contratado um
crescimento maior do que 5%. Se a
expectativa sobre a relação dívida/PIB for adequada, ajudará a
pressão para uma redução maior
da taxa real de juros. É o momento,
portanto, de exercer o maior controle sobre as despesas para projetar um superavit primário robusto,
que dê um sinal de que a situação
fiscal futura está realmente sob
controle.
O deficit da Previdência (setor
público + privado) e a evolução demográfica mostram que esse é um
problema crítico. Em 2009, menos
de 7% da população tinha mais de
65 anos. Em 2030, ela praticamente dobrará, arrastando o Brasil para
caminho muito perigoso.
2010 consolidará, ou não, o sucesso de 2009 e determinará a qualidade da herança que Lula deixará
para quem o suceder.
contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
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