São Paulo, quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

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ANTONIO DELFIM NETTO

Sucesso em 2010

EM 2009, A ÁREA econômica do governo (Orçamento e Fazenda) e o Banco Central agiram bem e, ajudados por Lula, encurtaram as consequências da crise financeira internacional.
Com o aumento das despesas do governo (mais de 16% quando comparamos janeiro/setembro com o mesmo período de 2008) e a política monetária na direção correta, mas sempre atrasada e homeopática, vamos, afinal, terminar o ano com um crescimento próximo de zero, o que, certamente, não é pouca coisa. É possível discutir a política "anticíclica" e a qualidade dos gastos. Do aumento de despesas até setembro, apenas pouco mais que 4% destinaram-se a investimentos. O grosso do aumento (mais de 30%) foi com as despesas de pessoal, Previdência (32%) e custeio (20%), que são permanentes e crescentes...
Na política monetária, o erro inicial foi propagar a "filosofia" de que banco grande é mais seguro do que banco pequeno e que os dois são menos seguros que os bancos públicos. Nosso sistema bancário é razoavelmente hígido. É verdade que o contribuinte é sempre chamado a pagar os erros dos bancos privados. Mas o mesmo acontece com os bancos públicos! A grande diferença é que os bancos "oficiais", quando bem geridos (o que é o caso do Banco do Brasil, por exemplo), mostraram-se excelentes instrumentos para a execução de políticas públicas.
O sucesso da política econômica se deveu a dois fatos: 1) à relativamente baixa e monotonicamente decrescente relação dívida pública/PIB e 2) ao nível elevado e crescente das nossas reservas internacionais. É fato empírico que a primeira (e a expectativa de sua evolução) influi de forma importante na formação da taxa de juros. Terminaremos 2009 com uma relação dívida líquida/PIB da ordem de 45%, com um superavit primário pouco maior do que 1% (contra 39% e 3,7%, respectivamente, em 2008).
Para 2010, temos contratado um crescimento maior do que 5%. Se a expectativa sobre a relação dívida/PIB for adequada, ajudará a pressão para uma redução maior da taxa real de juros. É o momento, portanto, de exercer o maior controle sobre as despesas para projetar um superavit primário robusto, que dê um sinal de que a situação fiscal futura está realmente sob controle.
O deficit da Previdência (setor público + privado) e a evolução demográfica mostram que esse é um problema crítico. Em 2009, menos de 7% da população tinha mais de 65 anos. Em 2030, ela praticamente dobrará, arrastando o Brasil para caminho muito perigoso.
2010 consolidará, ou não, o sucesso de 2009 e determinará a qualidade da herança que Lula deixará para quem o suceder.

contatodelfimnetto@uol.com.br


ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras nesta coluna.


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