São Paulo, quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

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CLÓVIS ROSSI

Sofisticação e revolução

SÃO PAULO - À falta de um Datafolha pessoal e portátil, uso o "meu" shopping center (o Ibirapuera) como uma espécie de microlaboratório de tendências antropossociológicas. Não é nada nem remotamente científico, claro. Mas me ajudou no atrevimento de fazer algo raríssimo em meus 30 anos de Folha: uma previsão -ainda por cima acertada.
O Ibirapuera era um concentrado do tal "feel good factor", a sensação disseminada de bem-estar que me fez afirmar, já em fevereiro, que Dilma Rousseff ganharia a eleição, apesar de José Serra ainda liderar as pesquisas.
"Meu" shopping não tem nem a sofisticação do Iguatemi nem o ar quatrocentão do Pátio Higienópolis. Como é ponto de passagem dos ônibus que vêm do fundão da zona sul, funciona bem como posto de observação de uma parcela importante dos paulistanos.
Depois de alguns meses de ausência, voltei nesta semana ao "meu" posto e notei uma micromudança que, espero, marcará a tendência para o período Dilma.
Uma loja de roupas popular foi repaginada e ganhou um toque de sofisticação na decoração. Uma loja de bijuterias passou a exibir peças que não chegam (ainda) a ser confundidas com joias, mas também já não têm o aspecto de quinquilharia. Daria até para enganar o ladrão, que, nos tempos que correm, tem mais "expertise" em separar joia de bijuteria do que os joalheiros de antigamente.
Parece óbvio que a mudança atende a uma demanda da clientela, mesmo que não formulada expressamente. Ou, posto de outra forma, os lojistas devem estar achando que preço baixo já não é o único fator a determinar a compra pela classe média emergente.
Atrevo-me a torcer para que essa incipiente sofisticação na exigência ao setor privado se estenda à prestação de serviços pelo setor público. Seria uma revolução.

crossi@uol.com.br


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