São Paulo, sábado, 24 de janeiro de 2004

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ENFIM, A REFORMA

A tão antecipada reforma ministerial do governo de Luiz Inácio Lula da Silva parece seguir a mesma lógica política que presidiu às reformulações de gabinete de seus antecessores. O motor da troca de titulares foi, como se sabe, a necessidade de encontrar dois postos de primeiro escalão para o PMDB em retribuição ao apoio que o partido concede ao governo no Congresso.
Lula paga os préstimos com um ano de governo, tempo mais do que suficiente para expor as fragilidades de seu primeiro ministério. Não apenas o número de pastas era excessivo, tornando algumas delas apenas ornamentais, como parte das mais relevantes teve desempenho pífio. É fácil atribuir o fiasco à ineficiência -notória, diga-se- de alguns dos titulares. É preciso observar, no entanto, que além de deficiências individuais, o governo demonstrou surpreendente despreparo técnico e político em áreas, como a social, nas quais se esperava algo mais do PT.
Na tentativa de mitigar a sensação de que a mudança não passa de um acerto fisiológico, transmite-se a idéia -desejável, mas bastante duvidosa- de que emergirá da reforma um governo mais competente.
É dentro dessa lógica que se inscreve a completa e de fato necessária reformulação da área social. Benedita da Silva (Assistência Social) e José Graziano (Segurança Alimentar) perdem seus cargos para um "superministério" sob o comando de Patrus Ananias (PT-MG), ex-prefeito de Belo Horizonte. Além da imagem de ineficiência dos dois depostos, deve-se notar que ambos criaram desconforto para o governo, como a viagem de Benedita a Buenos Aires e às declarações infelizes de Graziano sobre os nordestinos.
Outros ministros "incômodos" também perderam seus cargos. É o caso de Roberto Amaral (Ciência e Tecnologia), que foi repudiado por ampla parcela da comunidade científica, e de Cristovam Buarque (Educação), que mais parecia um folclórico ministro "de oposição", sempre reclamando das verbas destinadas à sua pasta.
É possível que a reforma confira mais eficiência ao governo, o que seria útil. Não convém, contudo, apostar mais alto nessa possibilidade.


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