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CLÓVIS ROSSI
A neve e os lucros
DAVOS - Começou finalmente a
nevar em Davos, quando já anoitecia o 23º dia do ano. Floquinhos esparsos. Temperatura, no meio da
tarde, de cinco graus positivos,
quando o normal, nesta época do
ano, é entre -5C e -15C.
No percurso de trem Zurique-Davos, habitualmente um imenso
tapete branco em toda parte, a neve
também está quase ausente. Há
mais marrom e verde.
É uma pena que tenha começado
a nevar. Não que a falta de neve e a
temperatura comparativamente
elevada sejam conseqüência do
efeito estufa, do tal aquecimento
global, que vai cavando por fim um
buraco na agenda dos que decidem,
sejam empresários, sejam governantes. Não dá para afirmá-lo cientificamente ainda. Mas é uma evidência contundente, que se pode
até agarrar com as mãos, de que há
algo no ar, e não é neve.
Digo "uma pena" porque um dos
temas sobre os quais deveria debruçar-se o encontro anual 2007 do
Fórum Econômico Mundial é justamente o aquecimento global. Como a platéia de Davos é formada basicamente por homens de negócio,
se eles se preocuparem fica mais fácil atacar o problema, como é óbvio
(até porque a redução dos gases que
provocam o efeito estufa tem um
custo que recairá em parte ao menos sobre as empresas).
Mas uma pesquisa feita pela PricewaterhouseCoopers com 1.100
executivos-chefes do mundo (brasileiros inclusive) mostra que aquecimento global não entra no radar, a
não ser como uma constatação inevitável. "O risco existe, mas não podemos fazer nada a respeito", é o
sentimento predominante, relata
Samuel DiPiazza, executivo-chefe
da Price. Ou, então, uma visão de
muito curto prazo.
"O aquecimento global não vai
afetar nossos resultados no próximo trimestre", reagem os executivos, segundo DiPiazza.
Que neve muito, pois. Sem neve,
Davos não tem a menor graça.
crossi@uol.com.br
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