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ANTONIO DELFIM NETTO
Lula, o metalúrgico
O AFASTAMENTO de Castro,
em Cuba, deixou espaço para uma discussão (ainda
restrita) de como dar um pouco
mais de racionalidade à economia
do país, por meio do estabelecimento de incentivos que permitam
aos cidadãos apropriarem-se de
parte dos benefícios de sua iniciativa. No mesmo momento, Venezuela, Bolívia e Equador anunciam o
caminho contrário.
Depois de chegar ao poder em
1959 e de introduzir o planejamento central, Castro tentou, no tétrico
período 1966-70, criar o "novo homem", educando a classe urbana
(como já haviam tentado Stálin e
Mao), mandando-a cortar cana, e
estatizando até pequenos negócios. Com o fim da ajuda soviética,
houve pequenas liberações e iniciou-se uma discussão que, ao
transcender o círculo governamental, foi cruelmente interrompida em 1996. Agora a mesma discussão está discretamente voltando à tona.
Chávez, aparentemente, acredita que terá sucesso na criação do
"homem novo", que se moverá pelo
altruísmo (em lugar da "ganância
do mercado") e, generosamente,
obedecerá à sua liderança. Crê que
vai ter êxito onde Stálin, Mao, Castro e outros tantos fracassaram. Algumas pessoas (e o "mercado" que
adora volatilidade) temem que o
presidente Lula possa entusiasmar-se com tal idéia, tão generosa
quanto desastrosa. Para estes, recomendo um pequeno excerto do
discurso de posse de Lula no Sindicato dos Metalúrgicos, no dia 19 de
abril de 1975:
"O momento da história que estamos vivendo apresenta-se, apesar dos desmentidos em contrário,
como dos mais negros para os destinos individuais e coletivos do ser
humano. De um lado, vemos o homem esmagado pelo Estado, escravizado pela ideologia marxista, tolhido nos seus mais comezinhos
ideais de liberdade, limitado em
sua capacidade de pensar e se manifestar. E, no reverso da situação,
encontramos o homem escravizado pelo poder econômico, explorado por outros homens, privados da
dignidade que o trabalho proporciona, tangidos pela febre de lucro,
jungidos ao ritmo da produção,
condicionados por leis bonitas,
mas inaplicáveis, equiparados às
máquinas e ferramentas."
Lula nunca foi aprisionado no
dogmático marxismo de "pé quebrado" que freqüentou nossas academias e encantou muitos de nossos "intelectuais"... Talvez registre
alguma influência da solidariedade
concreta de dom Cláudio Hummes
à greve de 1979, quando o "Partidão" e grandes políticos do MDB se
esquivaram de apoiá-la. Pelo discurso no lançamento do PAC, um
dia pensará em substituir-se a
Deus na criação do "homem novo"!
dep.delfimnetto@camara.gov.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
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