São Paulo, terça-feira, 24 de fevereiro de 2004

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ELIANE CANTANHÊDE

O trio

BRASÍLIA - No Brasil, Lula às voltas com Waldomiros e ameaças de CPI. Na Argentina, Kirchner driblando uma herança, essa, sim, maldita, uma dívida monumental e a gana do FMI. Na Venezuela, Chávez às vésperas da decisão sobre fazer ou não o referendo abreviando seu mandato.
E eu atrás das crises. Na semana das CPIs, no Brasil. Na folga de Carnaval, na Argentina. A partir de amanhã, na Venezuela. Onde, aliás, Lula, Kirchner e Chávez devem chorar as mágoas, um no ombro do outro, na quinta e na sexta.
A reunião prevista para Caracas é mais ampla, mas o que interessa mesmo é o encontro exclusivo desse trio curioso, que tanto chacoalha a América do Sul, despertando interesse no mundo todo e certa preocupação nos EUA e em parte da Europa.
O Brasil tem sido bom conselheiro para a Venezuela e poucas vezes foi tão unido à Argentina, com um discurso afinado inclusive na OMC (Organização Mundial do Comércio). Mas, em relação aos dois vizinhos, a situação brasileira é bem melhor, tanto política como econômica.
O limite da convivência de Lula com Chávez e com Kirchner é crucial. Deve ser diplomático, nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Amigos, sim. Mas sem se contaminar com as sandices de Chávez nem com as incertezas de Kirchner. A crise brasileira é pontual, com foco objetivo. O governo está firme e forte, e as instituições, consolidadas. Já a crise da Venezuela é crônica, e a da Argentina, aguda.
A união faz a força, é verdade. Mas a união de fracos não necessariamente faz a força nem leva a lugar nenhum. Na sua passagem pela Venezuela, Lula deve ser firme, mas cauteloso. Deve lembrar que Lula é Lula e que o Brasil é o Brasil -está em paz e é o maior e mais importante país do continente.


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