São Paulo, sexta-feira, 24 de fevereiro de 2006

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EMBATE DE SEITAS

O ataque a uma das mais sagradas mesquitas xiitas do Iraque e a violenta reação que se seguiu pioram a já instável situação política do país. O principal bloco de partidos sunitas retirou-se das conversações para formar um novo governo, e vai aumentando a pressão de grupos xiitas para que os Estados Unidos se retirem do Iraque.
A ação dos terroristas foi claramente premeditada para insuflar a guerra civil entre árabes xiitas (cerca de 60% da população) e árabes sunitas (20%). A mesquita de Askariya, em Samarra, cuja cúpula dourada foi destruída, é um dos quatro templos mais sagrados para os xiitas. Nela estão enterrados vários dos descendentes do profeta Muhammad cultuados pelos adeptos dessa seita. Dificilmente outra ação antixiita seria interpretada como tão provocativa.
Rebeldes sunitas há tempos atacam alvos xiitas, inclusive fiéis na hora das orações. Essa foi a primeira vez, porém, que a violência foi dirigida especificamente contra um símbolo religioso. A represália que se seguiu foi generalizada. Manifestantes xiitas armados saíram por diversas cidades do país em busca de vingança. Mais de 130 pessoas -a maioria sunitas- foram assassinadas.
Espera-se que a ação das autoridades e os chamamentos à razão feitos pelos clérigos moderados sejam capazes de aplacar a violência. Mas há motivos para recear que o episódio deixe marcas políticas que talvez se revelem mais difíceis de apagar.
O rompimento das conversações entre xiitas e sunitas para a formação de um governo de coalizão é mau sinal. O entendimento entre as duas facções é importante para que se assegure a manutenção de um Iraque unido e multiétnico. Também é grave o fato de o incidente estar reacendendo entre os xiitas radicais os apelos para que os EUA deixem imediatamente o país. Caso essa linha triunfe, a "libertação" do Iraque poderá resultar na instalação de um Estado fundamentalista islâmico xiita nos moldes da teocracia iraniana.


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