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EMBATE DE SEITAS
O ataque a uma das mais sagradas mesquitas xiitas do Iraque e a violenta reação que se seguiu
pioram a já instável situação política
do país. O principal bloco de partidos sunitas retirou-se das conversações para formar um novo governo,
e vai aumentando a pressão de grupos xiitas para que os Estados Unidos se retirem do Iraque.
A ação dos terroristas foi claramente premeditada para insuflar a guerra
civil entre árabes xiitas (cerca de 60%
da população) e árabes sunitas
(20%). A mesquita de Askariya, em
Samarra, cuja cúpula dourada foi
destruída, é um dos quatro templos
mais sagrados para os xiitas. Nela estão enterrados vários dos descendentes do profeta Muhammad cultuados
pelos adeptos dessa seita. Dificilmente outra ação antixiita seria interpretada como tão provocativa.
Rebeldes sunitas há tempos atacam alvos xiitas, inclusive fiéis na hora das orações. Essa foi a primeira
vez, porém, que a violência foi dirigida especificamente contra um símbolo religioso. A represália que se seguiu foi generalizada. Manifestantes
xiitas armados saíram por diversas
cidades do país em busca de vingança. Mais de 130 pessoas -a maioria
sunitas- foram assassinadas.
Espera-se que a ação das autoridades e os chamamentos à razão feitos
pelos clérigos moderados sejam capazes de aplacar a violência. Mas há
motivos para recear que o episódio
deixe marcas políticas que talvez se
revelem mais difíceis de apagar.
O rompimento das conversações
entre xiitas e sunitas para a formação
de um governo de coalizão é mau sinal. O entendimento entre as duas
facções é importante para que se assegure a manutenção de um Iraque
unido e multiétnico. Também é grave o fato de o incidente estar reacendendo entre os xiitas radicais os apelos para que os EUA deixem imediatamente o país. Caso essa linha
triunfe, a "libertação" do Iraque poderá resultar na instalação de um Estado fundamentalista islâmico xiita
nos moldes da teocracia iraniana.
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