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MELCHIADES FILHO
Internet aberta
BRASÍLIA - A revelação de que
José Dirceu recebeu dinheiro da
empresa que poderá se beneficiar
caso a Telebrás seja reativada lança
dúvidas sobre o plano federal de
universalização da banda larga e sobre o modelo de "Estado executor"
ensaiado pela Casa Civil no segundo mandato de Lula e defendido pela candidata Dilma Rousseff.
Com sede num paraíso fiscal do
Caribe, a Star Overseas pagou R$ 1
pela participação na Eletronet, uma
empresa falida cujo único ativo valioso (uma rede de 16 mil km de cabos de fibra ótica) estava na mão
dos credores. Meses depois de a
offshore ter contratado Dirceu, em
2007, o governo federal anunciou a
intenção de transformar o cabeamento da Eletronet na "espinha
dorsal" de uma nova rede nacional
de acesso à internet, sob a tutela de
uma estatal (Telebrás).
Não está claro, ainda, se e como a
Star Overseas lucrará com essa remontagem do setor, que será anunciada no mês que vem pelo Palácio
do Planalto. Mas a remuneração de
Dirceu (R$ 620 mil em dois anos)
indica que a offshore não esperava
pouco. Advogados ouvidos pela Folha estimam em R$ 200 milhões.
Toda vez que as peripécias de
Dirceu são flagradas, Lula diminui
o papel do ex-ministro. Diz que ele
é um franco-atirador que atua em
causa própria -mesmo quando trata de alianças e doações eleitorais.
Desta vez, o Planalto terá de formular um discurso menos ligeiro e
mais responsável e esclarecedor.
Primeiro, porque o caso Eletronet parece seguir o padrão dos escândalos da BrOi e da Varig -empresários com acesso ao governo
Lula garantem uma bolada sem
precisar investir muito (ou nada),
graças a informações reservadas
e/ou ao suporte jurídico da União.
Segundo, porque Dilma atuou diretamente no plano de banda larga.
Ela diz que a rede da Eletronet é
"patrimônio importante como o
pré-sal". E foi o "apoio mais decisivo" à modelagem do projeto, escreveu Dirceu em março de 2007.
melchiades.filho@grupofolha.com.br
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