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FERNANDO DE BARROS E SILVA
A direita e o lulismo
SÃO PAULO - A chegada de Lula
ao poder seguida da ruína moral do
petismo serviu de trampolim para
impulsionar uma nova direita no
país. É um fenômeno de expressão
midiática, mais do que propriamente político. Está disseminado
em jornais, sites, blogs, na revista. E
deve sua difusão aos falcões do colunismo que se orgulha de parecer
assim, estupidamente reacionário.
Mesmo que a autopropaganda
seja enganosa e oculte que até ontem o conservador empedernido de
hoje comia no prato da esquerda,
que é só um "parvenu", um espertalhão adaptado aos tempos -ainda
assim, temos aqui uma novidade.
Essa direita emergente já formou
patota. Citam uns aos outros, promovem entrevistas entre si, trocam
elogios despudorados. Praticam o
mais desabrido compadrio, mas
proclamam a meritocracia e as virtudes da impessoalidade; são boçais, mas adoram arrotar cultura.
É uma direita ruidosa e cínica,
festiva e catastrofista. Serve para
entreter e consolar uma elite que se
diz "classe média" e vê o país como
estorvo à realização de seu infinito
potencial. Seus privilégios estão
sempre sob ameaça e agora a clientela de Lula veio azedar de vez suas
fantasias de exclusivismo social.
Invertemos a fórmula de Umberto Eco: enquanto a direita anuncia o
apocalipse, os integrados, sob as
asas do lulismo, são testemunhas
vivas do fiasco do pensamento de
esquerda neste país. Não me lembro de ter visto antes a mídia estampar com tanta clareza os passos
da regressão social de que participa.
Do lado oficial, há um ambiente
paragetulista de cooptação e intimidação difusas, se não avesso, certamente hostil às liberdades de expressão e de informação.
Na outra ponta, um articulismo
de oposição francamente antinordestino e preconceituoso, coalhado
de racismo e misoginia, que faz do
insulto seu método e tem na truculência verbal sua marca. Deve-se a
ele o retorno da cultura da sarjeta e
do lixo retórico, vício da imprensa
nativa que remonta ao Império,
mas que havia caído em desuso.
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