|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Editoriais
editoriais@uol.com.br
Santo Daime
ERA PREVISÍVEL que as mortes
trágicas do cartunista Glauco e de seu filho Raoni reanimassem a controvérsia sobre o
uso do chá alucinógeno ayahuasca, também conhecido como
hoasca ou daime. Glauco fundou
uma das igrejas que usa a bebida
em rituais. Seu assassino confesso frequentava cerimônias, mas,
ao que se sabe, teria ingerido o
chá pela última vez semanas antes de cometer o crime.
Há que evitar, em primeiro lugar, a polarização entre a apologia da hoasca e sua demonização.
Assim como não há evidência
científica dos poderes curativos
e transcendentais que seguidores lhe atribuem, tampouco as há
para apoiar o pressuposto de críticos acerbos de que o chá cause
dependência, faça mal à saúde ou
desencadeie ações violentas.
A bebida contém potentes
compostos psicoativos diluídos
em água. Eles são obtidos de
duas plantas, o cipó jagube (Banisteriopsis caapi) e a erva chacrona (Psychotria viridis).
A ingestão tem efeitos sobre o
metabolismo de importantes
neurotransmissores, como a serotonina. Estimula o surgimento
de visões, que os seguidores do
Santo Daime chamam de "mirações". É uma droga, sob qualquer definição, como o álcool ou
o tabaco -e seu uso deve submeter-se a normas.
A utilização do chá no contexto religioso é autorizada pelo Estado desde 1987. Questionamentos redundaram sempre na confirmação da legitimidade do consumo ritual. A mais recente ratificação se deu em janeiro, com a
Resolução n.º 1 do Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas.
O Conad faz uma série de recomendações -de um cadastro das
igrejas à obrigatoriedade de os líderes religiosos realizarem entrevistas com candidatos a participar dos cultos. Incentiva, também, a realização de pesquisas
sobre os efeitos da ayahuasca.
São providências sensatas e
preferíveis à repressão ou à
proscrição de seitas que acolhem
desajustados e desequilibrados
entre seus fiéis -como pedem
alguns, de maneira oportunista.
Texto Anterior: Editoriais: Expansão imobiliária Próximo Texto: São Paulo - Fernando de Barros e Silva: Partido de programa Índice
|