São Paulo, segunda-feira, 24 de abril de 2000


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Extravagância abortada

RUI NOGUEIRA

Brasília - O assunto foi tema recorrente durante uns três anos. No embalo do "Brasil estável" do real, o governo criou asas para um desvario: ter direito a uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas).
A qualquer momento, desde que uma autoridade estrangeira aterrissasse no Brasil, ou alguém daqui botasse os pés lá fora, um repórter queria saber da candidatura do Brasil ao conselho. Aos forasteiros a pergunta era feita em tom de cobrança pelo apoio à "candidatura" brasileira.
Uma parte do governo, jogando iscas à imprensa, ensaiava a idéia do Brasil-potência. Essa mistura de baboseira e extravagância acabou-se. Foi o que disse em entrevista ao repórter da Sucursal de Brasília André Soliani, em linguagem diplomática surpreendentemente clara, o próprio ministro das Relações Exteriores, Luiz Felipe Lampreia.
Pergunta de Soliani: "O projeto "Brasil potência mundial" acabou?". Resposta do ministro Lampreia: "Para tê-lo é preciso ter uma dimensão militar. Potência mundial significa ter capacidade de atuação militar em conflitos fora da nossa fronteira. O Brasil, com os desafios sociais que tem, graves carências no próprio povo, não pode gastar os recursos para criar uma potência militar".
Arquivado o delírio do Brasil-potência, o rumo é olhar com atenção redobrada para a América do Sul. Na super-reunião de todos os presidentes sul-americanos, em Brasília, em agosto-setembro, FHC terá uma oportunidade única para jogar a pá de cal na "potência" e, de uma vez por todas, parar de querer ser o que não pode.
Viver de fantasias é sempre perigoso.


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