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Extravagância abortada
RUI NOGUEIRA
Brasília - O assunto foi tema recorrente durante uns três anos. No embalo do "Brasil estável" do real, o governo criou asas para um desvario: ter direito a uma cadeira permanente no
Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas).
A qualquer momento, desde que
uma autoridade estrangeira aterrissasse no Brasil, ou alguém daqui botasse os pés lá fora, um repórter queria
saber da candidatura do Brasil ao
conselho. Aos forasteiros a pergunta
era feita em tom de cobrança pelo
apoio à "candidatura" brasileira.
Uma parte do governo, jogando iscas à imprensa, ensaiava a idéia do
Brasil-potência. Essa mistura de baboseira e extravagância acabou-se.
Foi o que disse em entrevista ao repórter da Sucursal de Brasília André Soliani, em linguagem diplomática surpreendentemente clara, o próprio ministro das Relações Exteriores, Luiz
Felipe Lampreia.
Pergunta de Soliani: "O projeto "Brasil potência mundial" acabou?". Resposta do ministro Lampreia: "Para tê-lo é preciso ter uma dimensão militar.
Potência mundial significa ter capacidade de atuação militar em conflitos
fora da nossa fronteira. O Brasil, com
os desafios sociais que tem, graves carências no próprio povo, não pode gastar os recursos para criar uma potência militar".
Arquivado o delírio do Brasil-potência, o rumo é olhar com atenção redobrada para a América do Sul. Na super-reunião de todos os presidentes
sul-americanos, em Brasília, em agosto-setembro, FHC terá uma oportunidade única para jogar a pá de cal na
"potência" e, de uma vez por todas,
parar de querer ser o que não pode.
Viver de fantasias é sempre perigoso.
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