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CLÓVIS ROSSI
A corrida pela esperança
MADRI - O que aconteceria no Brasil
se, de repente, os mal chamados radicais do PT assumissem o controle do
partido e passassem a determinar ou
a condicionar o governo?
Bom, guardadas as distâncias de
praxe, é mais ou menos isso o que está acontecendo no Equador: a rua fugiu de Lucio Gutiérrez para uma espécie de democracia direta, convencida de que a classe política, tradicional ou falsamente renovadora, é incapaz de dar resposta às suas urgências.
Os manifestantes vitoriosos querem
constituir uma Assembléia Nacional
Popular, com delegados das assembléias provinciais (também populares). Mais: querem impedir que disputem as próximas eleições quem tenha exercido cargo público nos últimos 25 anos (que tal adotar a idéia
no Brasil?).
Pregam a moratória de 10 anos no
pagamento da dívida externa e a expulsão dos soldados norte-americanos que cuidam da base de Manta,
parte do mecanismo de vigilância do
chamado Plano Colômbia.
Há vozes também contra a dolarização decretada em 2000 pelo então
presidente Jamil Mahuad.
É bom notar que o presidente deposto pela rua tinha antecedentes similares (ou até melhores) aos de Lula
no Brasil: crescimento econômico de
7% em 2004, bem superior ao do Brasil de Lula, e superávit fiscal pela primeira vez em muitos anos. Quem
acha que isso basta para devolver a
esperança ao tal de povo está vendo
agora o resultado, mesmo que finja
ignorar o que ocorreu antes no próprio Equador, no Peru, na Bolívia, na
Argentina e, de certa forma, no próprio Brasil.
O que está ocorrendo no subcontinente é o constante esgarçar da democracia representativa. Os representados não confiam nos representantes. Estão sempre correndo atrás
de uma novidade, suposta ou real
(como Fernando Collor fingia ser em
1989). O diabo é que a novidade envelhece cada vez mais velozmente, e a
fuga para a frente recomeça.
Um dia a casa cai.
@ - crossi@uol.com.br
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