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CARLOS HEITOR CONY
Telê
RIO DE JANEIRO - Eu era moço, quase da mesma idade de Telê, que jogava na ponta-direita do Fluminense.
No campeonato carioca de 1951, o "timinho" de Zezé Moreira foi campeão
e deu o primeiro título a Telê. Em
muita coisa ele foi a "primeira vez".
O futebol adotava o WM, adaptado
por Flávio Costa com a diagonal. Telê foi o primeiro ponta a jogar recuado e, em certos jogos, atuava como
centroavante. Foi nesta posição que
decidiu a final do campeonato, fazendo os dois gols que deram o título
ao meu time.
Mais que magro, esquelético, levava o Fluminense nas costas -um time que tinha Didi, Pinheiro, Orlando
e Carlyle. No returno do campeonato,
num jogo com o Madureira, fiz uma
coisa que jamais imaginara fazer. Na
geral do campo do tricolor, pulamos,
uns 50 torcedores, e levamos Telê nos
ombros. Foi a primeira e única vez
que o entusiasmo venceu a apatia
que eu trouxe do berço e levarei para
o túmulo.
O Fluminense precisava da vitória,
tinha o Botafogo com Garrincha e
Nilton Santos nos calcanhares, e o
Bangu, com Zizinho, empatado na liderança. O Madureira abriu com
dois a zero no primeiro tempo. Nunca vi nem veria individualmente um
jogador virar o placar.
A galera derrubou o alambrado, eu
no meio. Pegamos Telê nos ombros,
empurrei e fui empurrado, mas consegui apoiar no ombro uma de suas
pernas suadas e ossudas. Demos a
volta no campo. Foi, como disse, uma
façanha inédita, que nunca mais se
repetiria.
Zagalo também era ponta ( esquerda) e começou jogando recuado. Os
dois se tornaram técnicos depois. Zagalo sendo o que é. Telê sacrificando
a carreira por um futebol sem violência, um futebol arte, primo-irmão do
balé.
Armou a melhor seleção de todos os
tempos, a de 82, com Falcão, Zico, Sócrates, Cerezo... Não trouxemos a Copa, mas seu time foi considerado
unanimemente o melhor daquele
torneio. Ganharia depois outros títulos mundiais no São Paulo.
Ajudei anonimamente a levar Telê
em triunfo naquela tarde de glória
para ele e para mim.
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