São Paulo, quinta-feira, 24 de maio de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

A ÚLTIMA DO TALEBAN

O governo do Afeganistão determinou anteontem que as pessoas que fazem parte de grupos étnicos e/ou religiosos minoritários devem marcar essa condição costurando um pedaço de tecido amarelo à roupa. A medida, que atinge principalmente hindus, despertou protestos de vários países e organizações.
Trata-se, sem sombra de dúvida, de uma disposição lamentável, que vem despertando a justa indignação do mundo civilizado. Não é preciso recuar muito na história para chegar às estrelas amarelas que os nazistas forçaram os judeus a utilizar a partir de 1939. O resto da história é conhecido.
As declarações de autoridades afegãs, segundo as quais a marca visa a proteger as minorias da ação da polícia religiosa, são pueris e fantasiosas. Se a idéia é resguardar da polícia os não-muçulmanos, bastaria que essa mesma polícia perguntasse qual a religião da pessoa antes de agir contra ela. A medida é racista e incompatível com os direitos humanos.
Cerca de 90% do território do Afeganistão está sob controle do Taleban, as milícias radicais islâmicas. Não se sabe ainda ao certo como as novas leis vão funcionar. A notícia de que já estão em vigor, contudo, veio ao mundo através de uma reportagem da rádio afegã Voz da Sharia (lei islâmica) com o comandante do Ministério da Promoção da Virtude e Prevenção do Vício, Maulawi Abdul Wali.
O Taleban se notabilizou pelo radicalismo além de qualquer sensatez. Quando chegou ao poder, em 1996, chocou o mundo ao proibir mulheres de trabalhar ou estudar. Música, cinema e televisão foram igualmente proscritos. Sem que ninguém saiba bem o porquê, as pipas também são ilegais no Afeganistão.
Mais recentemente, a milícia voltou às manchetes dos jornais por determinar a destruição de todas as estátuas do país, incluindo duas gigantescas e antiquíssimas imagens de Buda esculpidas na montanha.
É assustadora a capacidade do homem de não aprender nada com os erros do passado.


Texto Anterior: Editoriais: AGÊNCIAS EM CURTO
Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: No escuro e sozinho
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.