BRASÍLIA - Se candidato à Presidência da República virou produto de marketing como os sabonetes, o medo é até aqui o principal ingrediente da composição química do sabonete governista. Estranho? Segue a história resumida de como o medo vira sabonete.
Pesquisas de opinião chamadas qualitativas, em que eleitores de perfil previamente selecionado são convidados a dar palpites sobre determinados temas, revelaram pavor das imagens da crise na Argentina: filas nos bancos, panelaços, pobreza galopante, quem tem dinheiro em banco sem poder sacá-lo, gente de classe média sobrevivendo de bico.
Por meio dos processos ""científicos" das pesquisas, o medo captado ali chegou ao discurso de campanha do tucano José Serra como mote.
O leitor já terá percebido Armínio Fraga, José Serra e até Fernando Henrique Cardoso fazendo coro nos últimos dias : o Brasil pode virar a Argentina se o futuro presidente tomar "a direção errada", "sair do rumo", "não tiver competência". Em resumo, seria o continuísmo ou o caos, a desordem econômica.
Em 98, FHC acenou com opção parecida. Num pronunciamento histórico, propôs sacrifícios, um ajuste imediato, para o país poder baixar os juros e voltar a crescer. Era a reta final da campanha da reeleição que exaltava o ""rumo certo" que o país adotara. O governo negociava um acordo com o FMI para fechar as contas e garantir fôlego ao real, que seria desvalorizado em seguida.
Na época, José Serra evitava falar em economia em público. Para não dizer que o país rumava ao abismo. A recém-indicada candidata à vice na chapa, Rita Camata, havia votado contra as reformas propostas por FHC, inclusive a reeleição para presidente. Ou seja, era voz discordante do tal rumo.
É estranho ver a dupla sob o lema "Continuar no rumo certo" e acusar o PT de mudar de idéia e "argentinizar" o Brasil. O comando da campanha tucana não vê problema nenhum nisso. Cobrar coerência de um sabonete seria demais.



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