São Paulo, terça-feira, 24 de maio de 2011

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Internacionalização, adensamento e crédito

LUIZ GUILHERME PIVA


Há nítida necessidade de testar cenários em que os juros sejam baixos, fortalecendo os processos de modernização que estamos experimentando

Para pensar o Brasil nos próximos anos, destaco, em meio aos processos que estão em curso, dois vetores que são dinamizadores de muitos outros. Um vetor é constituído pelos investimentos em infraestrutura (energia, transportes, saneamento, portos e aeroportos). Outro, pela ascensão de camadas sociais nos mercados de trabalho, consumo, informação e educação.
O primeiro vetor mobiliza grandes volumes de recursos internos e externos e enseja modernizações institucionais, regulatórias e financeiras. Redimensiona investimentos públicos e privados, o mercado de capitais e fundos de investimento e de pensão, com efeitos imediatos e estruturais na economia.
Chamo a atenção para o fato de que configuram redes interligadas por mãos duplas: ampliam corredores de circulação de mercadorias e serviços entre o Brasil e o mundo e, ao mesmo tempo, multiplicam as conexões entre as regiões, revitalizando e criando polos dinâmicos no território, antes rarefeito.
O segundo processo intensifica a produção de bens e serviços em grande escala para parcelas crescentes da população.
Isso imprime torque à economia, com externalidades em todas as direções. E configura um tipo de atualização maciça nos padrões de produção, consumo, informação e comportamento dessas camadas, tendo como referência (via convivência e informação) os padrões modernos nas sociedades brasileira e internacional.
Aqui, também destaco que tanto o público consumidor ascendente quanto as empresas que a ele fornecem bens e serviços se espraiam por muitos núcleos do território, diferentemente da histórica concentração na região Sudeste.
Os dois vetores ainda estão limitados pela carência de instrumentos de dívida e de crédito de baixo custo. No caso das empresas e dos projetos, o BNDES, o BNB e outras fontes suprem parte da lacuna. Mas a maioria das fontes oferece dívida muito cara ou participação no capital das empresas ("private equity").
A primeira é desaconselhável; o segundo ainda é rejeitado pela maioria dos empresários, resistentes a ter sócios. No caso dos consumidores, a carência de crédito de baixo custo também constitui um entrave decisivo, ainda mais sendo eles, na maioria, cidadãos de baixa renda.
Há, portanto, sinais de que os processos econômicos e sociais brasileiros têm -concomitantes e articuladas- uma dinâmica de internacionalização e integração ao mundo e outra de alastramento e adensamento no território nacional. Há muitas hipóteses que precisam ser testadas com esses sinais.
Mas há, nitidamente, a necessidade de testar cenários em que os juros (e, assim, os custos para dívida e crédito) sejam baixos, fortalecendo os processos de modernização que estamos experimentando.

LUIZ GUILHERME PIVA, economista e doutor pela USP em ciência política, é diretor da LCA Consultores. Publicou "Ladrilhadores e Semeadores" (Editora 34) e "A Miséria da Economia e da Política" (Manole).

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br


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