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A QUESTÃO DO EMPREGO
A pesquisa Datafolha sobre vida
profissional, publicada no último
domingo nesta Folha, acrescenta ao
debate socioeconômico uma informação reveladora sobre as transformações pelas quais passa o país.
É sabido o efeito que o Real teve sobre a distribuição de renda. Essa nova pesquisa, porém, tem o mérito de
captar não só o quadro estático da
transferência de renda no momento
em que acabou o chamado imposto
inflacionário. O levantamento mostra a transformação que ocorre no nível e na forma de emprego numa sociedade que enfrenta a globalização.
Essa mudança é resultado de um plano econômico que vem fazendo mais
do que estabilizar a moeda.
A pesquisa Datafolha ilustra as consequências da competição global para a economia brasileira: pelo menos
em princípio, há um corte no número de empregos. Outros se tornam
mais precários, com terceirização e
contratação de autônomos. Ocorre
uma flexibilização na prática, embora o mercado de trabalho no país seja
oficialmente muito regulamentado.
Se, no Brasil, essas mudanças ainda
estão só no começo, nos EUA, na
ponta da economia mundial, elas já
podem ser observadas em profundidade. Na reunião dos países mais ricos e poderosos do planeta, encerrada domingo, o governo norte-americano apresentou o perfil do emprego
e da renda do trabalho numa economia que, além de ser uma das mais
abertas e competitivas, apresenta um
mercado de trabalho flexibilizado.
Os EUA têm hoje a menor taxa de
desemprego em décadas, e o nível da
riqueza cresce. No entanto, a desigualdade de renda aumenta, e o salário médio do trabalhador industrial é
menor do que há 16 anos.
Tais indicadores, incipientes ainda
no Brasil, já bem evidentes nos EUA,
delineiam os enormes desafios apresentados pela nova ordem econômica mundial: produz-se muita riqueza, mas diminuem os meios de apropriá-la por meio do trabalho. Uma alternativa seria aumentar o número de
empregos pela redução da jornada de
trabalho. Mesmo essa opção coloca
dificuldades, como a de reduzir os
salários de quem trabalhe menos.
Mas a complexidade do tema vai demandar ainda muito tempo para que
ele seja devidamente equacionado.
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