São Paulo, terça, 24 de junho de 1997.



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A QUESTÃO DO EMPREGO

A pesquisa Datafolha sobre vida profissional, publicada no último domingo nesta Folha, acrescenta ao debate socioeconômico uma informação reveladora sobre as transformações pelas quais passa o país.
É sabido o efeito que o Real teve sobre a distribuição de renda. Essa nova pesquisa, porém, tem o mérito de captar não só o quadro estático da transferência de renda no momento em que acabou o chamado imposto inflacionário. O levantamento mostra a transformação que ocorre no nível e na forma de emprego numa sociedade que enfrenta a globalização. Essa mudança é resultado de um plano econômico que vem fazendo mais do que estabilizar a moeda.
A pesquisa Datafolha ilustra as consequências da competição global para a economia brasileira: pelo menos em princípio, há um corte no número de empregos. Outros se tornam mais precários, com terceirização e contratação de autônomos. Ocorre uma flexibilização na prática, embora o mercado de trabalho no país seja oficialmente muito regulamentado.
Se, no Brasil, essas mudanças ainda estão só no começo, nos EUA, na ponta da economia mundial, elas já podem ser observadas em profundidade. Na reunião dos países mais ricos e poderosos do planeta, encerrada domingo, o governo norte-americano apresentou o perfil do emprego e da renda do trabalho numa economia que, além de ser uma das mais abertas e competitivas, apresenta um mercado de trabalho flexibilizado.
Os EUA têm hoje a menor taxa de desemprego em décadas, e o nível da riqueza cresce. No entanto, a desigualdade de renda aumenta, e o salário médio do trabalhador industrial é menor do que há 16 anos.
Tais indicadores, incipientes ainda no Brasil, já bem evidentes nos EUA, delineiam os enormes desafios apresentados pela nova ordem econômica mundial: produz-se muita riqueza, mas diminuem os meios de apropriá-la por meio do trabalho. Uma alternativa seria aumentar o número de empregos pela redução da jornada de trabalho. Mesmo essa opção coloca dificuldades, como a de reduzir os salários de quem trabalhe menos. Mas a complexidade do tema vai demandar ainda muito tempo para que ele seja devidamente equacionado.




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