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ELIANE CANTANHÊDE
Tudo na mesma
BRASÍLIA - A gente vai, a gente vem,
e tudo continua na mesma. Só se fala
e reclama de juros altos (altíssimos,
aliás) e de superávit primário proporcional ao arrocho. E ninguém faz
nada para mudar.
É por isso que Lula, seus assessores
políticos ou os marqueteiros do governo, sei lá, decidiram virar o disco
nesta semana, com festas e boas notícias: verbas camaradas para a agricultura na terça, microcrédito para a
indústria na quarta e, na quinta, visita à Fiesp (capital) e a metalúrgicos
do ABC (trabalho).
Pausa para a viagem de Lula à Colômbia e volta à carga na semana
que vem, com o programa do primeiro emprego, aquele -ou um daqueles- que o governo vive anunciando
desde janeiro e nunca sai do papel.
Parece que agora vai.
Tudo muito bom, tudo muito bem,
mas, daí a Lula e a uma fila de ministros e parlamentares petistas alardearem que "tudo está mudando",
vai uma diferença enorme, quase do
tamanho dos juros brasileiros.
Na versão oficial e otimista, até
aqui o governo e o país giraram em
torno da estabilidade, mas, a partir
de hoje, ao longo da semana e para
todo o sempre, passa-se a tocar o discurso do crescimento e do emprego.
Na desconfiança de quem está de
fora, e não tão otimista assim, parece
só mais uma onda de palavras, promessas e boas intenções. Porque é difícil pensar em crescimento e emprego no duro com esses juros e esse arrocho. Não é, vice José Alencar?
A gente vai, a gente vem, mas já está todo mundo bem crescidinho para
saber que, sem sacudir a política macroeconômica, nada feito. Paliativos
são... apenas paliativos. Para ir distraindo a turma, enquanto não se
pensam e assumem medidas para
realmente aquecer a economia e gerar os 10 milhões de empregos prometidos por Lula na campanha.
Bem, mas o mais chato é descobrir
que efetivamente tudo continua na
mesma, até os paliativos. E não na
mesma de um mês atrás, quando tirei férias, mas de um, dois, três, sabe-se lá quantos anos.
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