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ANTONIO DELFIM NETTO
A "receita"
DESDE SEMPRE os economistas buscaram "receitas"
que produziriam o desenvolvimento.
Adam Smith, muito antes de publicar a "Riqueza das Nações", já
propagava a sua: "Para transformar um Estado do mais baixo barbarismo ao mais alto grau de opulência são necessários: paz, tributação leve e tolerável administração
da justiça. Todo o resto vem pelo
curso natural das coisas" ("Essays
on Philosophical Subjects", 1755).
Dois séculos depois (no início
dos anos 90), quando a população
mundial era seis vezes maior e o
PIB per capita 11 vezes maior do
que em 1755, os economistas pensaram ter encontrado a fórmula
mágica com o famoso Consenso de
Washington.
Este insistia, equivocadamente,
no Estado "mínimo", mas muitas
das suas prescrições (equilíbrio fiscal, taxa de câmbio "realista", por
exemplo) eram corretas. Ele foi
muito criticado pelo que nunca sugeriu: a plena liberdade de movimento de capitais!
A crítica fundamental é que ele,
como em geral toda a teoria do desenvolvimento, ignorou o papel da
história, da geografia e do que se
pode chamar da "cultura" dos países. Cultura é um conceito abstrato, difícil de definir, porque envolve a própria forma de viver da sociedade (as crenças, o conhecimento, as leis, os costumes, a arte, a moral), mas é importante para organizá-la para o desenvolvimento econômico e social.
Recentemente (setembro de
2004), um grupo de excelentes
economistas reuniu-se em Barcelona e divulgou uma "agenda" (na
realidade, uma "receita aberta")
para explorar as "perspectivas de
crescimento e de desenvolvimento" dos países emergentes.
A diferença de novo enfoque é visível na sua primeira recomendação: "O raciocínio econômico básico e a experiência internacional sugerem que a qualidade das instituições, tal como o respeito às regras
da lei e o direito de propriedade,
somada à orientação do mercado,
com um balanço apropriado entre
ele e o Estado, e uma atenção à distribuição da renda estão na raiz das
estratégias de desenvolvimento
bem-sucedidas".
E continua: "Encorajar os países
em desenvolvimento a copiarem
mecanicamente as instituições dos
países ricos -como as instituições
financeiras internacionais tendem
a fazer- pode produzir mais danos
do que benefícios".
O desenvolvimento econômico e
social é, numa larga medida, idiossincrático. E isso deve ser levado
em conta na formação acadêmica
dos economistas. É claro que eles
precisam conhecer a literatura internacional, mas é ainda mais claro
que devem ter vivência e estudo da
história, da geografia e da "cultura"
do país em que estão inseridos.
contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
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