São Paulo, Quinta-feira, 24 de Junho de 1999 |
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Estado de sítio CLÓVIS ROSSI Rio de Janeiro - É cedo ainda, mas já deu para sentir como será formidável o esquema de segurança para a cúpula de chefes de Estado/governo da União Européia e do Mercosul, que, com os governantes, só começa segunda-feira. É verdade que esquemas parecidos têm sido montados onde quer que os governantes se reúnam, na Europa e nos Estados Unidos também. Mas, na Europa principalmente, o alvo é o, digamos, público externo. Centro geográfico do mundo, os europeus têm mesmo que vigiar seus próprios terroristas e os que, provenientes de outras áreas, gostariam de ter a sua causa catapultada à mídia planetária por uma ação que seria espetacular. No Rio, ao contrário, o alvo principal é o público interno, a violência comum e/ou patrocinada pelo crime organizado. Ninguém imagina que Isama Bin Laden, hoje o terrorista mais procurado do mundo (apesar de ser também um milionário, de origem saudita), vá colocar uma bomba no aterro do Flamengo. Mas também ninguém quer correr o risco de uma bala perdida alcançar o peito de um mandatário estrangeiro ou mesmo de um funcionário de segundo escalão do Reino Unido, nem sequer de Honduras (sem preconceito, apenas por escala econômica). A favela, e não o terror, é o "inimigo". Por mais que entenda as razões da segurança, ainda assim não deixa de ser triste ver uma cidade tão linda quanto o Rio sitiada pelas forças de segurança de seu próprio país. No fundo, é um retrato em ponto maior da situação de estado de sítio permanente em que vivem os brasileiros, ao menos aqueles que habitam os grandes centros. Para entristecer ainda mais, há o fato de que os cariocas (é verdade que poucos, por enquanto) com os quais conversei dizem que a cidade já não é mais tão insegura. Pelo menos não tanto quanto São Paulo, dizem. Sitiado no próprio país, o brasileiro virou um deserdado da esperança. Texto Anterior: Editorial: PITTA E MIRANDA EM SP Próximo Texto: Brasília - Rui Nogueira: Bolsonaro e o andor Índice |
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