São Paulo, quinta-feira, 24 de julho de 2008

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ELIANE CANTANHÊDE

Erros e acertos

BRASÍLIA - Não foi nenhum acusado, advogado ou curioso quem disse que há "erros" no inquérito do delegado Protógenes Queiroz sobre o trio Daniel Dantas, Naji Nahas e Celso Pitta. Foi, nada mais nada menos, o ministro da Justiça e chefe da PF, Tarso Genro.
Antes, os erros eram só de procedimento, a tal "espetacularização" de prender os suspeitos com câmeras de TV adentrando a casa alheia e com o uso de algemas de pobre em gente tão rica. Agora, passaram a ser de conteúdo: a fundamentação da prisão temporária (como Gilmar Mendes já dizia), a referência leviana a pessoas inocentes e os rasgos messiânicos injustificáveis em peças policiais (como apontou o repórter Ranier Bragon). Sem contar as ações escondidas da cúpula da PF e a aliança com a Abin.
Segundo Tarso, o substituto de Protógenes, Ricardo Saadi, é de "altíssimo nível" e o inquérito incorporará uma profusão de adjetivos: será "mais profundo", "mais técnico", "mais sofisticado", "com mais qualidade" e "menos midiático".
O que, portanto, significa retirar trechos como o que trata uma boa jornalista como "integrante de organização criminosa", por ter dado o chamado "furo de reportagem", ou o que faz referência a um rapaz de Niterói como agente infiltrado de Daniel Dantas no Exército.
Ele fez engenharia da computação no Instituto Militar de Engenharia e se tornou tenente em 2007, mas desistiu da carreira. O Exército exigiu ressarcimento, e ele entrou na Justiça. Trata-se do primeiro espião que decidiu processar quem deveria espionar.
O grande escândalo poderia descambar para uma comédia de quinta, não fosse o principal: à parte as idiossincrasias e os erros de Protógenes, a essência do inquérito que ele comandou é consistente -ou "robusta", como admitiu Tarso. E, assim, a investigação e suas conseqüências têm de ir adiante, porque a desmoralização não seria só de um delegado; seria geral.

elianec@uol.com.br


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