São Paulo, quinta-feira, 24 de julho de 2008

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KENNETH MAXWELL

Idade e experiência

NÃO É POLITICAMENTE correto falar sobre idade. Mas tanto idade quanto raça são ainda assim questões importantes na eleição presidencial dos EUA.
Só conheci dois senadores norte-americanos pessoalmente. Um deles continua em atividade, e por isso não vou mencioná-lo pelo nome.
Nosso breve encontro aconteceu mais de 20 anos atrás, no Aeroporto Dulles, em Washington, DC. No começo, eu não sabia com quem estava falando, porque o senador em questão parecia muito pequeno, e nem de longe se assemelhava ao dinâmico interrogador que eu havia visto na televisão. Eu tinha perguntado se estávamos no elevador certo para o saguão. Essa simples pergunta pareceu deixá-lo perplexo, e ele começou a olhar em volta, em pânico, procurando pelos assessores, que chegaram e levaram o espantado senador para um lugar seguro, onde ele estivesse protegido contra uma simples pergunta.
O segundo encontro aconteceu no Haiti, então governado por "Baby Doc", no começo dos anos 70. Na época, o país virtualmente não recebia visitantes estrangeiros. Mas terminei por encontrar o senador Barry Goldwater num restaurante de Pétionville. Goldwater foi candidato à Presidência e fundador do movimento conservador moderno dos EUA. Àquela altura, o senador estava quase paralítico.
Olhando para mim (então relativamente jovem, e de cabelo comprido), ele disse: "Você deve me considerar um fascista". Eu respondi, de fato, que sim, era o que eu pensava.
"Bom", ele rebateu, "porque eu presumo que você seja comunista".
Com isso, almoçamos juntos e tivemos uma ótima conversa.
Quando estávamos esperando o café, chegou um grupo de soldados de Baby Doc, armados de metralhadoras. "Maldição", resmungou Goldwater de modo quase inaudível: "Deus me proteja dos meus protetores". Mas ele se levantou lentamente, ordenou que o líder dos soldados os alinhasse e que eles apresentassem armas para inspeção. Ele os inspecionou, saudou e dispensou. O truque deu certo.
Tudo isso me faz pensar no senador John McCain. O problema dele com o eleitorado é sua idade, 72 anos, que ele vende como "experiência", em contraposição à juventude (46 anos) do senador Barack Obama e sua falta de "experiência". No que tange às questões de segurança nacional, a estratégia parece ter funcionado até o momento; McCain está bem adiante de Obama nas pesquisas quando o assunto é determinar quem seria o melhor comandante-em-chefe para as Forças Armadas. Mas a verdadeira questão é o que a longa experiência legislativa de McCain implica. Será que ele se perderia diante de uma pergunta simples, como o senador no elevador, ou seria ele mais parecido com Goldwater: mente veloz apesar do corpo lento?


KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.
Tradução de PAULO MIGLIACCI


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