São Paulo, domingo, 24 de julho de 2011

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Ciclo interminável

Recuo do risco inflacionário não garante cumprimento da meta em 2012; indisciplina fiscal sustenta taxa de juros que custa ao país 5,5% do PIB

A decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) de aumentar a taxa de juros em 0,25 ponto percentual, para 12,5%, era esperada. A novidade esteve no comunicado distribuído após a reunião, que eliminou a referência à necessidade de manter os ajustes na taxa de juros por período "suficientemente prolongado".
Nas entrelinhas da mensagem cifrada, analistas enxergam indício de que o ciclo de alta nos juros pode estar encerrado, ou a caminho disso. O Banco Central adotou tom mais moderado que o do último relatório de inflação, divulgado no final de junho, quando assinalava preocupações com o risco inflacionário oriundo do aquecimento do mercado de trabalho.
Talvez a mudança decorra da piora do cenário externo, com evidências mais e mais contundentes de desaceleração da economia mundial. Mas há fatores internos em jogo a merecer a atenção.
É razoável supor que os efeitos do aperto nos juros, da contração dos gastos públicos e das medidas de restrição ao crédito adotadas desde o início do ano se façam sentir com mais força no segundo semestre. O BC parece contar com uma desaceleração mais substancial da economia nos meses vindouros, para um ritmo de crescimento próximo a 3% ao ano.
Ao mesmo tempo, o quadro conjuntural de inflação se apresenta menos adverso que na primeira metade do ano. Apesar da inflação renitente no setor de serviços, que atingiu nova máxima (9% em 12 meses) em julho, a queda no valor das commodities reduziu o risco imediato, na medida em que contribui para conter preços de alimentos e matérias-primas no mercado nacional.
Não está claro ainda se a inflação convergirá para a meta de inflação de 4,5% em 2012. O próprio BC prevê algo entre 4,6% e 4,8%, e a média dos analistas trabalha com números superiores a 5%.
Nesse contexto ainda preocupante, parece prematuro sinalizar com o fim do ciclo de alta de juros. Isso não impede reconhecer, todavia, que o balanço dos riscos inflacionários se mostra mais favorável, como escreveu o BC.
Seja como for, continua verdadeiro que o BC conta com pouca colaboração da máquina do governo no combate à inflação. A política fiscal já dá mostras de ter sido afrouxada e, apesar da diminuição dos desembolsos do BNDES, permanece a tentação de manter o pé no acelerador do crédito público. O resultado da combinação é uma taxa de juros entre as mais altas do mundo.
É difícil medir o custo para o erário dos empréstimos subsidiados. Uma possibilidade é considerar a chamada "taxa de juros implícita" da dívida pública, divulgada pelo BC, que reflete esses custos indiretamente.
Desse ângulo, o quadro se revela ainda mais preocupante: os juros ultrapassam a Selic e devem atingir quase 14% ao ano nos próximos meses. Considerando que a dívida anda perto de 40% do PIB, tem-se que o Brasil pagará 5,5% do PIB em juros -uma aberração.


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