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SELVAGERIA
Uma nova série de ataques a
moradores de rua de São Paulo
matou uma mulher e deixou três feridos. Já são seis os mortos desde a
quinta-feira da semana passada,
quando a onda de violência teve início. Os atentados seguem um mesmo padrão: as vítimas são atacadas
enquanto dormem a golpes de instrumentos contundentes -paus, tacos ou marretas.
O caso, revoltante, continua desafiando as autoridades, a começar pelo secretário estadual da Segurança
Pública, Saulo de Castro Abreu Filho,
que aventou inicialmente a possibilidade de conflito entre os próprios
moradores de rua. Agora, são duas
as hipóteses que oficialmente norteiam as investigações: a ação de traficantes de drogas, que estariam cobrando dívidas, ou dos chamados
grupos de intolerância. Seja qual for
a origem dos atentados, a sociedade
não pode aceitar outra alternativa
que não seja a elucidação dos crimes.
A impunidade diante de tamanha
barbárie seria intolerável.
Os assassinatos de São Paulo inscrevem-se no quadro de aumento da
criminalidade que o país, alarmado,
tem presenciado nas últimas duas
décadas. Mata-se no Brasil com uma
freqüência assustadora. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, o país ostenta o lastimável título
de campeão mundial em número de
homicídios. Uma pessoa é morta a
cada 12 minutos, perfazendo um total de cerca 45 mil homicídios por
ano. Com 3% da população mundial, o Brasil é responsável por 13%
dos assassinatos cometidos no planeta. Para tornar a situação ainda
mais preocupante, é ínfimo o percentual de crimes esclarecidos.
Uma conjunção de fatores conspira
para esse panorama desolador. O
baixo crescimento econômico, o aumento do desemprego, as agudas
desigualdades e a exclusão social são
o pano de fundo de um quadro no
qual a preocupante ineficiência da
polícia, do Judiciário e do sistema
prisional favorece a disseminação da
violência. Ou o país enfrenta essa
realidade com a determinação que o
desafio exige ou estaremos condenados a viver numa sociedade cada vez
mais marcada pela selvageria.
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