São Paulo, quarta-feira, 24 de agosto de 2005

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ANTONIO DELFIM NETTO

Independência pero no mucha

Se existe um país que, visto "de fora", se apresenta como extremamente virtuoso do ponto de vista econômico é o Chile. Visto "por dentro", restam ainda alguns pequenos problemas. A tabela abaixo mostra as diferenças com o Brasil.




Essa comparação tem o fim deliberado de relativizar alguns dos badalados resultados de nossa política econômica e de mostrar que é preciso aprofundá-la sob o comando do ilustre ministro Palocci com o apoio do presidente Lula. É óbvio que a mudança mais importante é enfrentar com coragem e determinação a mudança do "mix" de política econômica, aumentando o peso atribuído à política fiscal para poder afrouxar a política monetária. Já em 2004, o crescimento de 32% das exportações brasileiras foi comemorado como um grande "feito interno" quando as chilenas cresceram 49%, ambas, em larga medida, conseqüência da expansão do "quantum" e dos preços do comércio mundial. A tolice da supervalorização do real, produzida pelo enorme diferencial de juro interno e externo, está escondida naquela expansão. Ela caiu sobre nós com a aparência de uma enorme gratuidade, mas está custando à nação uma perda de pelo menos 1,5% do PIB neste "annus luctus" da política nacional...
Curioso: no Brasil, o Banco Central autônomo é presidido por um ministro de Estado, o que significa sua estrita dependência das ordens do presidente da República. No Chile, o Banco Central tem um alto grau de autonomia, mas não pode esquivar-se dos "conselhos" do presidente da República. No dia 18 de agosto (enquanto nosso Copom aumentava, infinitesimalmente, a nossa taxa de juro real), o senhor Ricardo Lagos, presidente do Chile, transmitiu publicamente o seu entendimento sobre a política monetária. Ele disse que:
1. É inevitável que os altos preços do cobre e, portanto, o grande aumento do valor das exportações, valorizem o peso chileno, mas que, por isso mesmo, 2. o Banco Central deve ser muito cuidadoso com a taxa de juro real, pois ela ajuda a atrair capital volátil, que valoriza ainda mais a taxa de câmbio.
Se o presidente Lula fizesse uma declaração como essa, ela seria considerada abusiva, e todo o sistema financeiro nacional e internacional ficaria de "mau humor".
Nossos "cientistas" e analistas financeiros diriam que se trata de um desvio de conduta tipicamente "populista"...

Antonio Delfim Netto escreve às quartas-feiras nesta coluna.
@ - dep.delfimnetto@camara.gov.br


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